O termo “masculinidade tóxica” está em voga, contudo, na literatura brasileira, na década de 60 já era possível encontrar personagens que questionavam esse perfil masculino pautado na força bruta, na agressividade e na não demonstração de sentimentos de carinho e afeto. Desse modo, neste trabalho, faremos um percurso analítico acerca de alguns dos personagens criados por João Guimarães Rosa, em Primeiras estórias, a fim de constatar como esse autor mineiro já traçava um delicado e, ao mesmo tempo, profundo questionamento sobre a figura do homem em sociedade e desse perfil de masculinidade. Assim, percebe-se que vários personagens já nos forneciam indicativos de uma masculinidade plural, como a defendida em nossa época.
O termo “masculinidade tóxica” está em voga, contudo, na literatura brasileira, na década de 60 já era possível encontrar personagens que questionavam esse perfil masculino pautado na força bruta, na agressividade e na não demonstração de sentimentos de carinho e afeto. Desse modo, neste trabalho, faremos um percurso analítico acerca de alguns dos personagens criados por João Guimarães Rosa, em Primeiras estórias, mais especificamente nos contos: Famigerado; A benfazeja; Os irmãos Dagobé; Luas-de-mel e Substância, a fim de constatar como esse autor mineiro já traçava um delicado e, ao mesmo tempo, profundo questionamento sobre a figura do homem em sociedade e desse perfil de masculinidade. Assim, percebe-se que vários personagens já nos forneciam indicativos de uma masculinidade plural, como a defendida em nossa época, ou seja, que busca se afastar de modelos estáticos, pré-concebidos e estereotipados. O que, por sua vez, indica que essas narrativas proporcionam reflexões quanto a percepção e evolução da compreensão da masculinidade em nossa sociedade.
Esta dissertação é um estudo qualitativo sobre a masculinidade do jagunço Riobaldo,
personagem protagonista do romance Grande Sertão: Veredas, do escritor João Guimarães
Rosa (2001). A pesquisa adotou uma perspectiva étnico-gendrada que encontra nos estudos de
gênero e etnicidade o seu principal embasamento teórico. Buscou-se compreender como essas
duas categorias colaboram na construção da masculinidade dessa personagem, para que fosse
possível responder a nossa principal questão norteadora: Riobaldo sofre uma crise de
identidade masculina? Como e por quê? Sendo assim, observou-se a maneira como o
protagonista do romance se pensa enquanto homem, de acordo com os valores da sociedade
patriarcal em que vive, bem como o papel do seu grupo de jagunços na construção desse
modelo rígido de macho, na manutenção de um tipo de poder hegemônico e na orientação dos
padrões étnicos da jagunçagem, que tem em um determinado tipo de masculinidade a sua
principal condição de pertencimento. Consequentemente, foram avaliadas as contradições do
discurso de Riobaldo, buscando atentar para os elementos que de alguma forma indiciam a
possível crise. Os(as) principais teóricos(as) de gênero utilizados(as) foram: Guacira Lopes
Louro (1997), Joan Wallach Scott (1995), Sócrates Nolasco (1993), Pierre Bourdieu (2014) e
Durval Muniz de Albuquerque Júnior (2013); os de etnicidade: Philippe Poutignat e Jocelyne
Streiff-Fenart (2011) e Fredrik Barth (2011). Por se tratar de um olhar sobre o jagunço, foi
preciso definir esse tipo regional, o que ocorreu com base em uma pesquisa de Frederico
Pernambucano de Mello (2011). Sendo o nosso corpus um texto literário e a nossa abordagem
uma questão social, fez-se necessário que este trabalho se iniciasse com uma discussão acerca
da relação entre literatura e sociedade – parte embasada especialmente nos estudos de Antonio
Candido (2014), Anderson Bastos Martins (2013) e Adriana Maria de Abreu Barbosa (2011)
– e que, em seguida, se promovesse uma fundamentação – a partir de Teresa de Lauretis
(1994) – que define a literatura como um lócus de tecnologias de gênero, mostrando como o
romance investigado cumpre a sua função tecnológica de criar novos caminhos para se pensar
os gêneros e as sexualidades. A metodologia utilizada foi a Análise Crítica do Discurso
(ACD), que entende o discurso como uma prática social, e tem aqui como seus principais
representantes Norman Fairclough (2001) e Teun A. van Dijk (2010). Através da ACD foram
investigados fragmentos do romance, sendo aplicadas sobre eles duas categorias de análise
que serviram para revelar as características da masculinidade de Riobaldo e organizá-las em
oito campos semânticos.