Pesquisa da mestra em oceanografia química, Dayana Moscardi dos Santos, evidenciou que substâncias prejudiciais, proibidas em 2008 na fabricação de tintas anti-incrustantes de embarcações, ainda estão presentes no ecossistema marinho. Trata-se dos compostos butílicos de estanho (BTs), que são altamente tóxicos.
Dayana monitorou a presença dos BTs na costa das regiões sul e sudeste do Brasil. Ela analisou e comprovou seus efeitos altamente prejudiciais em bagres estuarinos. “Isso demonstra a importância de uma fiscalização mais eficaz e um monitoramento constante em áreas consideradas impactadas.”
Em 2008, a utilização dos compostos butílicos de estanho em tintas de embarcações foi banida mundialmente. No entanto, eles ainda são muito utilizados em pesticidas, embalagens de supermercado e na fabricação de PVC. Com o despejo constante de esgoto no mar e o uso indevido, ainda, de tintas proibidas, o ambiente marinho não consegue se livrar dos BTs.
Outro aspecto que ajuda na permanência destas substâncias tóxicas é o fato de elas ficarem conservadas no fundo do mar. “Estes compostos têm uma meia vida mais longa em sedimentos mais profundos e sem oxigênio, como, por exemplo, nas regiões estuarinas”. Portos, marinas e docas, geralmente, se encontram em estuários, o que pode ser um problema. Com a constante necessidade de dragagem nos canais portuários, essa contaminação antiga volta a estar disponível no ambiente.
Durante muito tempo, os compostos butílicos de estanho foram considerados a substância mais tóxica já introduzida de forma deliberada no ambiente marinho. “Os BTs podem afetar diversos organismos, mesmo em baixas concentrações. Seu principal efeito é o imposex, uma síndrome que causa masculinização de fêmeas de algumas espécies de moluscos”, afirma Dayana.
Nos peixes, os problemas causados pelos compostos são relacionados ao sistema reprodutor, imune e hormonal. Não à toa, os bagres foram objeto da pesquisa. “Os BTs são pouco solúveis em água e acabam sedimentando. Por isso escolhemos os bagres, que vivem e se alimentam no fundo do mar, e acabam ingerindo contaminantes.”