ISSN 2359-5191

16/12/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 119 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
Estudo aponta coincidência entre debate sobre imigração nas esferas pública e política
Refugiados da ilha de Lampedusa/Fonte: The Telegraph

As políticas de imigração, um dos principais temas da atualidade europeia, interligam-se com a opinião pública. Isso é visível pela coincidência dos debates sobre o tema na esfera pública e na esfera política, com a mediação dos meios de comunicação. No entanto, uma característica problemática dessas discussões na mídia é a ausência da opinião do próprio imigrante. No caso brasileiro, além disso, nas poucas notícias encontradas sobre o tema trata mais dos casos do exterior do que da situação interna da imigração.

Esses aspectos das políticas de imigração foram estudados por Augusto Veloso Leão, do Instituto de Relações Internacionais (IRI/USP) em sua pesquisa de mestrado. Leão tomou como base os casos da Alemanha, da Áustria e da Suíça, em que analisou o conteúdo dos jornais desses países para observar a relação da opinião pública com a esfera política e as mudanças nos debates entre dois períodos.

Os períodos em questão são os anos de 1999 e de 2009, dois momentos importantes para a imigração nesses países. Aquele foi importante por se tratar do ano anterior à ampliação da União Europeia para 20 países do Leste Europeu. Já no ano de 2009 ocorreu uma crise humanitária em Lampedusa, ilha italiana no Mar Mediterrâneo, muito próxima ao continente africano e, por isso, utilizada como rota de imigração de refugiados.

Leão analisou os movimentos políticos em atividade e como estes se refletiam nos meios de comunicação e, ao mesmo tempo, como os movimentos sociais refletiam nos movimentos políticos. O pesquisador viu os meios de comunicação como mediadores entre esfera pública e política. Para ele, não é possível afirmar uma ligação direta – algo que acontece na política causar necessariamente mudança na opinião pública – mas afirma ser visível uma interligação. “O que está sendo debatido na esfera pública está sendo debatido na esfera política”.

Exemplo disso está nos casos observados na Alemanha e na Áustria em 1999, às vésperas da ampliação da União Europeia. A Alemanha, com um governo de centro-esquerda apresentava preocupação em integrar os imigrantes e deu início a uma reforma da lei de cidadania, que passou a ser mais inclusiva. “Isso teve um impacto bastante grande nas discussões porque eu acredito que foi uma das coisas que fez mudar o debate para como fazer com que os imigrantes participem da educação, da saúde”. A pesquisa aponta que, nesse período, a maioria dos termos para tratar de imigração na Alemanha eram neutros ou positivos.

Já na Áustria, o partido no poder em 1999 era de quase extrema-direita, e a reforma das leis de imigração seguiram um caminho oposto às da Alemanha, dificultando a integração dos imigrantes. Como reflexo, a maioria dos termos utilizados nos jornais para tratar de imigrantes eram negativos. “Ovelhas negras”, “ladrões”, “invasores”, “criminosos”. “Na Áustria, quase 30% das notícias eram sobre crimes praticados por migrantes. Era um medo muito grande dos imigrantes e isso refletiu também nas metáforas utilizadas sobre como falar dos imigrantes”.

Leão aponta, ainda, diferença entre 1999 e 2009. Segundo eles, em geral, os debates deixaram um caráter raso, sobre tentar impedir a vinda dos imigrantes, para a aceitação da presença destes e a necessidade de se adotar medidas práticas de integração. “Em 2009, mudaram as perspectivas da sociedade sobre os imigrantes, porque viram que os efeitos negativos que previam para a presença dos imigrantes acabaram não acontecendo.” O número de matérias que abordavam crimes cometidos por imigrantes também caiu pela metade.

No entanto, para Leão, o que ainda é preocupante é a ausência da voz do imigrante nos debates nos meios de comunicação, que se focam na opinião dos nacionais. “Isso pode ser negativo porque eles terão uma série de problemas para os quais ninguém vai dar solução, e isso pode ser um empecilho para a integração na sociedade que os hospeda”.

O pesquisador repetiu a análise para o caso brasileiro nos anos de 2009 e 2010. Ele observou que o debate sobre as políticas de imigração é muito pequeno e quase não encontrou notícias sobre imigração. “O mesmo número de notícias que há em dois meses na Alemanha houve em dois anos no Brasil. E as principais conversas eram sobre migrantes que não estão no Brasil”.

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