ISSN 2359-5191

17/12/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 120 - Educação - Faculdade de Educação
Tese critica modelo de ensino capitalista no Brasil
Lógica capitalista não favorece a educação da classe trabalhadora
John Mayall - Wikimedia Commons

Os integrantes das camadas mais baixas da população possuem acesso a um modelo hegemônico de educação que não legitima outras formas de transmissão cultural e não se esforça para garantir o aprendizado efetivo. O baixo desempenho de alunos em idade escolar e a dificuldade de se extinguir o analfabetismo no Brasil demonstram que há um predomínio da forma de educar (escola) sobre a efetiva universalização dos conteúdos.

Ao desnaturalizar o conceito de escola e estudar seu processo histórico de formação, a pesquisadora Carolina de Roig Catini elaborou a tese A Escola como Forma Social: um estudo do modo de educar capitalista para a Faculdade de Educação da USP (FE). Carolina considera o conceito marxista de fetichismo como estrutura fundamental de compreensão do sistema educacional, que acaba por se tornar mais uma forma de perpetuação das estruturas do capitalismo.

Para o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), a noção de fetichismo refere-se ao fenômeno social onde as mercadorias parecem ser dotadas de capacidades inatas que as fazem relacionar-se diretamente com os seres humanos. Isso ocorre porque, no capitalismo, o processo de produção se autonomiza com relação à vontade das pessoas. Em seu estudo, Carolina notou que, desde o início do século XX, o Estado brasileiro instituiu os grupos escolares com a reunião de salas de aulas isoladas, divisão do trabalho, simultaneidade de tarefas, organização temporal marcada pelo relógio, elementos coisificantes que fizeram a escola se afastar do verdadeiro papel educacional. “A escola foi alçada a uma função disciplinadora, de domesticação e socialização das trabalhadores e de seus filhos no sentido de diminuir a resistência que apresentavam de vender a força de trabalho”, comenta a pesquisadora sobre um fenômeno que estende suas consequências até os dias atuais.

Carolina aponta, ainda, para a ilusão de se ter uma educação efetiva ao observarmos somente os dados referentes à parcela da população que frequenta a escola. Segundo um relatório publicado no início de 2013 pelo Movimento Todos pela Educação, 92% das crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos de idade encontram-se matriculados. Entretanto, problemas como o analfabetismo total ou funcional - presentes quase totalmente nas camadas mais pobres - são uma realidade no país. A presença de uma lógica racionalizante e de elementos externos à vivência dos alunos compromentem muito sua formação. “O modo de viver capitalista continua individualista e culpabilizando os trabalhadores por exemplo, pela falta de competências profissionais”, afirma Carolina. “Isso revela que a batalha para que os interesses da classe trabalhadora de ter acesso ao conhecimento não está acabada, pelo contrário, se renova constantemente e nos coloca novos desafios para o futuro”, conclui a pesquisadora.

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