Em 2013, além de seus 120 anos, o Museu Paulista (MP) comemora um outro marco na sua história: os 50 anos de incorporação à Universidade de São Paulo. O projeto Memória em prosa e imagem: o Museu Paulista na USP, 1963-2013, que resultará num documentário, tem por objetivo registrar a história institucional da unidade, privilegiando o período das últimas cinco décadas.
Coordenado por Cecília Helena de Salles Oliveira, docente e ex-diretora do Museu, o documentário será estruturado pelas memórias contidas nos relatos de antigos funcionários, entre eles diretores, docentes e membros da equipe técnica. “O objetivo das filmagens é capturar depoimentos nos quais os entrevistados contem a história do Museu que eles experimentaram, articulada a sua própria vida”, explica a professora.
Intelectuais que também vivenciaram o ambiente e as mudanças ocorridas no MP também serão entrevistados. Além dos depoimentos, imagens de arquivo, fotografias e coleções do acervo institucional ajudarão a compor a produção audiovisual.
Mesmo com a significativa produção acerca da trajetória do Museu Paulista, os trabalhos realizados se focam na fundação e nas primeiras décadas de existência da unidade. O diferencial deste documentário é justamente narrar, a partir dos diferentes pontos de vista dos entrevistados, o período mais recente da história do Museu, contando o processo de incorporação à USP e as transformações decorrentes dele.
As filmagens para o documentário se iniciaram em outubro e a previsão é que ele esteja pronto até fevereiro do próximo ano.
Incorporação à USP
Antes de se tornar parte da Universidade de São Paulo, em 1963, o Museu Paulista pertencia à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Cecília conta que, na época, o MP estava abandonado graças à falta de recursos do órgão responsável. “Os diretores do Museu, principalmente Sérgio Buarque de Holanda e seu sucessor Mário Neme, perceberam que a única maneira do Museu sobreviver como uma instituição de pesquisa e que realmente prestasse serviço público era tornando-o uma parte da Universidade”, continua a coordenadora.
O processo de passagem do Museu Paulista da Secretaria de Educação para a USP levou quatro anos, de 1963 a 1967. Após a incorporação, a estrutura interna do MP foi completamente alterada. A primeira grande mudança foi o desenvolvimento da área científica, responsável por cuidar dos acervos e pela pesquisa. Também houve o estabelecimento de diretrizes pedagógicas e educacionais. “O Museu foi criado para ser um centro de pesquisa, de educação e de cultura. Penso que essa missão original só se engrandeceu com a entrada na Universidade”, pontua Cecília.
Entre os acontecimentos da história mais recente da unidade, a professora destaca vários momentos. Primeiramente, a própria incorporação à USP, pois a lei que garantiu o processo foi assinada pouco antes do golpe militar de 1964. O período da ditadura trouxe uma série de dificuldades para o Museu Paulista, tanto financeiras quanto no seu funcionamento interno.
O MP vem para a Universidade de São Paulo ao mesmo tempo em que há uma grande perseguição a vários professores. Mário Neme, diretor da unidade na época, acolheu esses docentes, que escreviam para a revista Anais do Museu Paulista ou davam aula na pós-graduação. “Então o Museu era um lugar ao mesmo tempo de muitos problemas, por causa da transição, mas também um espaço político muito claro, ligado a uma proposta de universidade e de produção de conhecimento democráticas”, continua Cecília.
O segundo momento é quando, na década de 1980, a USP reconhece a remuneração dos pesquisadores dos Museus equiparada à do corpo docente da Universidade. A coordenadora ressalta, ainda, acontecimentos importantes para os museus universitários: os anos 90, quando a carreira docente da USP foi estabelecida nessas instituições, e 2010, quando estas conquistaram plena autonomia acadêmica e administrativa. Nesse mesmo ano, em que os Museus se tornaram de fato unidades, a atividade de curadoria foi reconhecida como o eixo principal das suas atividades de pesquisa, ensino e extensão.
Apesar de todas essas informações terem sido levantadas para o roteiro, Cecília acredita que os dois momentos privilegiados no documentário serão os anos 60 e 80, já que os entrevistados são funcionários que trabalharam no Museu Paulista há muitos anos.