O projeto Documenta Amazônia está produzindo um documentário que busca resgatar a história e os locais de origem de alguns objetos do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP. Os artefatos em questão fazem parte do acervo de arqueologia amazônica do Museu, que além de ser um dos maiores do Brasil, é composto por itens provenientes de diversas regiões e de diferentes épocas.
Entre as coleções que compõem esse acervo estão a que foi formada por Harald Schultz a partir dos anos 50 e que pertencia ao Museu Paulista, a Coleção Tapajônica, aquisição da década de 70 e vários conjuntos resultantes dos projetos de pesquisa do MAE. Outra coleção é a que pertencia ao extinto Instituto Cultural Banco Santos e está sob a guarda provisória do museu desde 2005, graças a uma decisão judicial. Esta última forma hoje a Reserva Técnica Visitável, a cuja proposta o Documenta Amazônia está relacionado.
“Todas essas coleções chegaram ao Museu, não foram fruto de pesquisas arqueológicas de campo, foram coleções compradas na região. Então, a ideia do documentário é tentar construir melhor a história desses artefatos”, explica Carla Gibertoni Carneiro, arqueóloga que faz parte do projeto.
Outro objetivo é documentar como as populações locais se relacionam com esses objetos hoje em dia. Assim, a equipe não só visitou sítios arqueológicos e procurou pesquisadores de universidades locais, mas também conversou com moradores que praticam o colecionismo na região.
Durante a produção do documentário, eles também visitaram os locais de origem de coleções pessoais e dos acervos dos museus Paraense Emilio Goeldi, precursor nas pesquisas arqueológicas, João Fona e do Marajó, além da Associação Cultural Obidense. O intuito das visitas é verificar como essas coleções estão sendo tratadas. Segundo Carla, há instituições na região que estão numa situação precária e, em alguns casos, as peças estão melhor conservadas nas casas dos colecionadores.
A inclusão de outros acervos também pretende discutir a arqueologia amazônica num contexto amplo. A arqueóloga conta que as coleções do MAE “são só um ponto de partida para construirmos essa rede de informações em relação ao patrimônio arqueológico”.
A equipe realizou duas viagens ao Pará, entre abril e maio deste ano, e depois entre setembro e outubro. Carla explica que as datas foram escolhidas para que eles pudessem presenciar a cheia e a seca, “para ver como fica a paisagem e também como as populações no passado tiveram que lidar com variações do tipo, que são muito grandes. Questões assim sempre fizeram parte da ocupação desse território”.
O documentário será disponibilizado no site do Documenta Amazônia. Segundo Cristina Demartini, arqueóloga da equipe, a proposta da produção, que está ligada à da Reserva Técnica Visitável, “é transformar todo seu acervo acessível ao grande público”. O site está sendo alimentado com fotos e textos sobre as viagens. Como a produção não tem um roteiro definido, é a partir dos relatos da equipe, formada também pelo arqueólogo e documentarista Silvio Luiz Cordeiro e pelo fotógrafo Wagner Souza e Silva, que a narrativa está sendo construída.
O filme, em fase de pós-produção, está previsto para ficar pronto em maio de 2014. Contudo, as arqueólogas manifestam a vontade de prosseguir com o projeto e produzir outros documentários.