A dificuldade de unir acabamento estético e conforto em calçados femininos para deficientes físicos motivou a tese Design de Calçados para pessoas com deficiência física: Prazeres do belo e do conforto, de autoria de Mariana Rachel Roncoletta, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU). No estudo, a pesquisadora buscou trazer à tona a opinião das próprias usuárias dos calçados, dando veracidade às críticas e comentários sobre os produtos.
Mariana baseou sua tese em três áreas distintas (saúde, design e moda) e a partir delas fez uma análise do mercado de calçados para mulheres deficientes. As pessoas entrevistadas pela pesquisadora não se prenderam a uma análise técnica dos produtos, colocando em jogo também suas relações pessoais com os calçados, expondo anseios e decepções tidas em suas compras.
As usuárias demonstraram interesse em produtos que, além de apresentar a qualidade ergonômica necessária para seu bem estar, também tragam soluções estéticas que fujam ao padrão dos sapatos ortopédicos, considerados feios pela maioria delas. De acordo com Mariana “Elas só consomem os calçados ortopédicos, quando sentem muita dor, quando não há outra solução. Ao invés de promover a inclusão esses produtos acabam denunciando as restrições do usuário”.
Em muitos casos as deficientes físicas preferem comprar sapatos comuns e adapta-los às suas necessidades. Como as clínicas ortopédicas costumam ter preços bastante altos para fazer essa operação, boa parte das entrevistadas acabaram modificando seus calçados em sapateiros tradicionais.
De acordo com Mariana, sua pesquisa se baseia na teoria dos prazeres, que sugere que todos os produtos deveriam relacionar-se com os usuários a partir de alguns prazeres, entre eles o prazer físico, ligado ao conforto ao vesti-lo, e também o prazer social, ligado à afirmação social da sua individualidade pela estética do produto.
O censo de 2010, feito pelo IBGE, indicou que há no Brasil cerca de cinco milhões de pessoas com deficiência física do aparelho locomotor. Essas pessoas veem carentes de um mercado com produtos ortopédicos esteticamente agradáveis. “O número de empresas que produzem calçados para deficientes no Brasil é menor que vinte”, afirma a pesquisadora, “e nenhuma delas leva em consideração os aspectos da moda e do design, apenas se preocupando com a funcionalidade, no âmbito da saúde”.