São Paulo (AUN - USP) - Imagens de ressonância magnética mostram alterações cerebrais em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Para identificar as regiões que apresentam variações no volume da estrutura cerebral, uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas - HC da Universidade de São Paulo utilizou pela primeira vez um programa, desenvolvido na Inglaterra, que mapeia automaticamente as áreas afetadas. O estudo revela que os sintomas mentais da doença possuem relação com algumas partes específicas do cérebro como a amígdala e os córtices órbito-frontal e parietal.
Segundo o psiquiatra Geraldo Busatto Filho, do Laboratório de Neuro-Imagem do Instituto de Radiologia do HC, essas imagens não são utilizadas para o diagnóstico ou tratamento da doença, mas, sobretudo, para determinar a base cerebral da doença e os mecanismos responsáveis pelos seus sintomas. Ele explica que, no exame de ressonância magnética, conforme as ondas de rádio repercutem no tecido humano, é criada uma imagem no computador, que mostra a anatomia cerebral do paciente.
Nas imagens, aparece apenas a área composta pelo núcleo celular dos neurônios, chamada de substância cinzenta, que concentra as principais atividades da célula. Já os axônios, que participam das transmissões nervosas são chamados de substância branca e não aparecem no exame. A pesquisa se concentra no estudo das regiões que aparecem na imagem, mas Busatto lembra que alguns sintomas do TOC se relacionam com os circuitos neurais correspondentes à matéria branca.
Embora ainda não haja uma descrição clara de todas alterações orgânicas da pessoa com TOC, ele destaca a diminuição do córtex parietal, responsável por informações visuais e espaciais, além do aumento do córtex órbito-frontal e da amígdala responsáveis pelos pensamentos e ações repetitivas e pelos sintomas de ansiedade. O conhecimento dessas regiões pode levar ao desenvolvimento de novos medicamentos para a doença ou de novos métodos cirúrgicos.
Atualmente, o tratamento para TOC dispõe basicamente de duas ações: 1) medicação antidepressiva, que eleva os níveis de serotonina, um neurotransmissor que participa das ligações nervosas; e 2) psicoterapia cognitivo-comportamental, que propõe uma modificação nos pensamentos distorcidos. Essas ações podem ser utilizadas isoladamente ou combinadas. No caso de o paciente não apresentar melhoras, o médico pode orientar a intervenção cirúrgica, através de uma pequena lesão na região do córtex órbito-frontal.
Não há muitas explicações para a eficácia dessas ações já que pouco se conhece sobre as alterações fisiológicas provocadas pelo TOC. No entanto, elas refletem as principais linhas de estudo dessa doença. Busatto afirma que nenhum distúrbio de ansiedade tem origem apenas na estrutura orgânica da pessoa. Lembra que diversas pessoas apresentaram Transtorno do Estresse Pós-Traumático, dias depois dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, pesquisas apontam para genes relacionados à transmissão de serotononina.
O mapeamento automático das imagens de ressonância magnética já era utilizado na pesquisa de áreas cerebrais relacionadas a doenças como demência em idosos e esquizofrenia, mas foi pela primeira vez utilizada no estudo do transtorno obsessivo-compulsivo. O software, desenvolvido na Inglaterra e distribuído gratuitamente, elimina o processo de identificação manual das regiões alteradas.