Uma pesquisa, desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) analisou o potencial citotóxico de alguns dos ingredientes mais comuns em tinturas capilares temporárias, semipermanentes e permanentes. Através da aplicação de doses mais baixas que as utilizadas na indústria, o estudo pode observar os efeitos dos corantes Basic Yellow 57 e Basic Red 51 e do precursor parafenilenodiamina (PPD, na sigla em inglês) nos queratinócitos, células da epiderme responsáveis pela produção de queratina, proteína da estrutura de cabelos e da pele.
Os corantes temporários não se difundem na estrutura interna do cabelo e, portanto, já se esperavam resultados menos prejudiciais que dos outros ingredientes para o Basic Yellow 57. Já o semipermanente Basic Red 51, mesmo em doses baixas, já apresentou efeito citotóxico, levando à diminuição da espessura da epiderme, ao hipercromatismo (compactação anormal da cromatina no núcleo da célula) e, finalmente, à morte de queratinócitos por apoptose, processo no qual mudanças extremas no material genético levam a um fim precoce do ciclo celular natural.
Os corantes permanentes são formados diretamente no cabelo, a partir de uma reação de três componentes: um agente precursor, um agente acoplador e um oxidante em meio alcalino. A PPD, principal ingrediente utilizado como precursor, é associada por diversos estudos à ocorrência de dermatites, doenças respiratórias ou mesmo alguns tipos de câncer, como o de bexiga. Os dados, no entanto, são conflitantes. A pesquisa desenvolvida na FCFRP mostrou que a PPD, ao ser misturada com peróxido de hidrogênio (que, em solução aquosa, é a famosa água oxigenada), produz radicais livres, levando a pele à peroxidação lipídica e afetando o material genético das células da epiderme, podendo levar ao aumento da produção de citosinas pró-inflamatórias. "É o ingrediente mais usando no mundo, isso é o que preocupa", diz Thalita Boldrin Zanoni, autora do estudo, lembrando que a PPD – presente em 80% das tinturas permanentes – foi banida na França, na Suécia e na Alemanha.
O trabalho é uma parceria da de FCFRP-USP e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da capital, uma vez que, para o teste dos corantes, foi desenvolvido um modelo de pele 3D com queratinócitos humanos artificiais, área de pesquisa da professora Silvya Stuchi Maria-Engler, docente da FCF de São Paulo. Thalita destaca a importância de iniciativas como essa, que permitem resultados próximos da realidade sem o uso de testes em animais.