O zumbido é a percepção consciente de um som ou ruído, sem que haja de fato algum tipo de estimulação acústica externa. A falta de tratamentos definitivos e eficientes para todos os casos de zumbido, além da dificuldade de terapia foi o que incentivou a pesquisadora Daniele Tugumia a buscar alternativas para reabilitação de pessoas com este problema. Seu estudo busca investigar o treinamento auditivo formal como alternativa para uma melhora do sintoma.
A pesquisa foi realizada em três etapas: Anamnese, que se trata da avaliação da audição periférica e central e questionário de gravidade do zumbido, terapia e reavaliação. Todos os pacientes usados no estudo eram portadores de zumbido há mais de dois anos e maiores de 18 anos. Os grupos, divididos em estudo e controle, foram submetidos a oito sessões de terapia, uma vez por semana pelo período médio de 30 a 40 minutos.
Além da terapia, o grupo estudo foi submetido ao treinamento auditivo, com atividades selecionadas de forma que pudessem ser trabalhadas algumas habilidades auditivas. Enquanto o grupo controle foi submetido a atividades visuais sem nada de atividades auditivas, como palavras cruzadas, jogo dos sete erros e caça palavras. A reavaliação só foi feita dois meses após o término das terapias.
O treinamento auditivo utilizado na pesquisa é baseado na neuroplasticidade, que se refere à capacidade do sistema nervoso humano de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências. Esta característica está na base da formação de memórias e da aprendizagem bem como na adaptação a lesões e eventos traumáticos ao longo da vida adulta. A hipótese da pesquisa era de que com essas atividades fosse possível novas conexões neurais que puderiam auxiliar pacientes com zumbido
A principal terapia utilizada em casos de zumbido é a Tinnitus Retraining Terapy (TRT), que se baseia na habituação do zumbido, possui um custo alto. Daniele explica: “O fonoaudiólogo/a que aplica essa terapia precisa fazer um curso no exterior e depois revalidar a cada cinco anos o certificado e isso torna a terapia mais cara dificultando o acesso da população em geral”. Além do TRT, existe ainda o Tinnitus Handcap Inventory , um questionário que mede a gravidade do zumbido aplicado em pacientes com esse problema. Este foi utilizado na pesquisa, tanto na avaliação quanto na reavaliação feitas.
Daniele conta que houve dificuldades para fazer o recrutamento necessário de indivíduos para a realização da pesquisa: “A principio nossa intenção era ter 20 indivíduos em cada grupo mas infelizmente não conseguimos encontrar pacientes que se enquadrassem nos critérios de inclusão e que tivessem disponibilidade e tempo pra ir até a clínica de audiologia no prédio da Faculdade de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional na USP”.
O problema dessa dificuldade é que não permite uma análise mais precisa devido a amostra de indivíduos ser pequena, com isso os resultados estatísticos da pesquisa não foram significativos analisando pré e pós treinamento. Contudo, Daniele reforça que acredita que o treinamento auditivo pode sim ser benéfico na melhora do zumbido, porém seria preciso um número maior de pacientes e talvez mais números de sessões de treinamento para consolidar os resultados dessa alternativa de terapia.