São Paulo (AUN - USP) - Inúmeras catástrofes causadas pela poluição do pólo industrial de Cubatão já foram denunciadas. Entretanto, sempre que estudada a região apresenta novas facetas desses desastres ecológicos. Em sua tese de Doutorado “Fluxo de Água, Balanço Químico e Alterações no Solo da Floresta Atlântica Atingida pela Poluição Aérea de Cubatão, SP, Brasil”, Márcia Inês Martin Silveira Lopes, bióloga da Universidade de São Paulo, mostrou como a desmesurada industrialização da cidade também afetou a Floresta Atlântica. “Analisamos as entradas e saídas de elementos químicos no ciclo da água durante quatro anos. Através desses dados, podemos afirmar que Cubatão tem uma das florestas mais poluídas do mundo”. A tese foi defendida no Instituto de Biociências da USP em março de 2001.
Entre setembro de 1991 e agosto de 1995, a pesquisadora analisou amostras quinzenais da água de três regiões atingidas: Pilões, a menos poluída e utilizada como referência; Moji, fortemente poluída; e Paranapiacaba, moderadamente poluída. “Estudamos a entrada de elementos pela água da chuva e a transferência desses elementos para o solo e para as nascentes. As concentrações de íons entre as regiões estudadas eram de três a nove vezes maiores nas áreas mais poluídas”, afirmou a pesquisadora.
As altas concentrações de compostos de nitrogênio, enxofre e flúor afetam os ecossistemas de diferentes formas. Os primeiros sinais do excesso desses elementos são alterações físico-químicas do solo, como o abaixamento do pH. “Também pode haver um aumento da produção interna de ácidos através da mineralização da matéria orgânica e nitrificação”.
O próximo estágio da poluição é a degradação da vegetação devido ao desequilíbrio nutricional do solo. A deterioração promove a perda de nutrientes, pois a vegetação é um dos responsáveis pela estocagem e reciclagem desses compostos. “Juntamente com os organismos do solo, a vegetação mantém os ciclos dos nutrientes fechados e previne as perdas por lixiviação”, adverte Márcia. Por fim, pode haver a transferência da acidez e dos nutrientes para a água, empobrecendo o ecossistema atingido.
“Embora as emissões industriais de poluentes tenham sido reduzidas em cerca de 90% entre 1984 e 1990, podemos comprovar que o ecossistema da região ainda não pode se restabelecer”, lamenta a pesquisadora. Um desses indícios é a acidificação do solo. “Nas áreas mais poluídas, até mesmo as camadas mais profundas apresentam condições de extrema acidez”. Outro indício, que é também uma conseqüência dessa acidez, é a perda de nutrientes por lixiviação. Finalmente, há a poluição das águas superficiais e nas nascentes. “Isso mostra que nem mesmo a grande capacidade das rochas de neutralizar a acidez tem sido suficiente para controlar esse processo”.