A grade de programação é como a linguagem da televisão, afirma a pesquisadora Claudia Erthal. Ela representa uma grande emissão de 24 horas por dia que se torna parte da vida das pessoas. O telespectador liga a tv à sua vida, de modo que ela inclusive torna-se um ponto de referência que o ajuda a organizar seu tempo. Entretanto, o estudo da jornalista mostra que parte dessa relação deve se alterar graças à tecnologia. Já é possível assistir televisão por meios móveis que na maioria não contabilizam o número de telespectadores, deixando o canal um pouco perdido por não saber o tamanho de sua audiência. Além disso, com a possibilidade de ver programas pela internet, gravar ou assistir em um aparelho móvel em qualquer lugar, o tempo das pessoas não é mais domesticado pelos horários da televisão. De acordo com Cláudia, os diretores de programação acreditam que vai demorar até que isso afete a construção das grades televisivas, mas a jornalista se arrisca a dizer que logo isso terá que ser repensado.
Esta análise veio da pesquisa realizada por Cláudia em sua dissertação de mestrado. Nela a jornalista estudou a construção das grades de programação, a partir do momento em que as emissoras tornaram-se redes, ou seja, atingiram uma grande quantidade de pessoas. Segundo a pesquisadora, foi nesse momento que as grades do domingo, dia ao qual deu especial atenção, começaram a assumir o formato que possuem hoje. Ela concluiu que neste dia todas são, no geral, voltadas para a família brasileira, mas de jeitos diferentes. O SBT tem como marca programas de entretenimento que duram a tarde inteira e passam a impressão de vários programas em um, de modo que o propósito do canal é basicamente divertir a família. Já a globo, com o formato conhecido de esporte, seguido por entretenimento e jornal à noite, tem uma programação com mais variações, mas que há tempos está presa no mesmo formato. O canal traz entretenimento durante o dia, mas com o fantástico no fim do dia busca apresentar discursos fortes e trazer furos para se manter numa situação de poder. Já a record herda um pouco de cada um e traz programas longos de entretenimento, como o SBT, mas a noite leva ao espectador um jornal mais sério, como a globo.
Sobre os aspectos que influenciam a formação dessas grades, a jornalista apontou alguns fatores principais. Primeiro os econômicos, afinal a emissora precisa atrair anunciantes e, para isso, deve ter uma audiência que goste de sua programação. Em segundo lugar o projeto ideológico, que determina do que a emissora pode falar ou de que forma ela vai colocar os assuntos. E por ultimo, a criação da identidade da rede através da grade, afinal, com o passar do tempo, o formato da programação torna-se muito conhecido pelo telespectador, de modo que ele espera encontrá-lo sempre da mesma maneira.
Cláudia decidiu abordar esses temas em sua pesquisa, pois depois de trabalhar por um tempo em redações de jornalismo televisivo, certos aspectos da grade passaram a chamar sua atenção e a instigar uma reflexão sobre tudo que existia por trás de sua concepção. Assim, decidiu levar essas questões para o mundo acadêmico. Segundo ela, a escolha de abordar canais da televisão aberta, especificamente Globo, SBT e Record, se deu pois são aqueles a que quase todos têm acesso. Além disso, focou no domingo por ser o dia em que as pessoas mais assistem tv.
De acordo com Cláudia, algumas dificuldades foram encontradas no processo de pesquisa. Primeiro, pois é um assunto pouquíssimo estudado no Brasil e segundo por ser um tema delicado. A jornalista afirmou que não foi fácil falar com alguns diretores de programação, e aqueles com que conseguiu contato contato foi por já estar dentro das emissoras. Assim, optou por focar no estudo de materiais aos quais qualquer um teria acesso, utilizando o que encontrou disponível online e assitindo as programações das redes escolhidas. “Assim como a tv aberta é acessível, eu queria que o trabalho também fosse”, afirmou.