Escrito por uma pesquisadora do Instituto de Biociências (IB), o livro O Mundo dos Anfíbios - Folclore e Ciência une ambos os conhecimentos para ensinar alunos. Resultado de uma dissertação de mestrado, o projeto também buscou entender os mecanismos de aprendizagem das crianças através de técnicas lúdicas.
“Eu percorri um longo caminho”, afirma Vivian Mendonça, autora do livro e responsável pela dissertação. “Aprofundei-me por um ano e, a partir daí, estruturei os fatos folclóricos e míticos que eu tinha e como relaciona-los com a biologia dos anfíbios”, conta ela. Na escrita, Vivian seguiu uma série de parâmetros para tornar o texto mais atrativo e simples, sem deturpar o conceito científico. Uma das estratégias utilizadas foi o diálogo com o leitor, característica do texto didático, incluindo perguntas que instigassem a curiosidade das crianças.
Método
O método usado pela pesquisadora partiu da leitura de textos curtos escritos por ela em uma escola particular, com sistema de ensino separado e alunos de 12 e 13 anos. Após a leitura, as crianças teriam que se dividir em grupos e produzir algum conteúdo em cima daquilo que haviam aprendido. Através do que era reproduzido, foi possível perceber o que mais prendia cada um deles. “Houve um grupo em que chamou muita atenção a diferença das patas do sapo, da perereca e da rã. Esta não chegou a ser uma parte à qual dei destaque, mas isso apareceu na produção deles”, afirma Vivian.
Também através do conteúdo que os alunos criaram, foi possível identificar as partes que menos interessavam às crianças. Trechos em que o texto era mais carregado de termos científicos quebravam a linearidade e fluência da leitura. “Eles vinham com interesse no folclore e quando havia a passagem para o conceito técnico, perdia-se a atenção”, explica. Foi a partir disso que a pesquisadora alcançou a técnica de diálogo com o leitor, tornando o livro menos pesado e mantendo-se o ritmo da narrativa. “Achei importante passar por todo o caminho e os percalços que um autor passa. Às vezes, uma palavra que você escolhe muda totalmente o sentido”, diz a autora.
Questões editoriais
A pesquisadora afirma que, apesar de existirem programas do governo que incentivam o uso de materiais interdisciplinares, os livros paradidáticos ainda são muito sub-utilizados. Mesmo que haja autores que lutam por isso, conteúdos didáticos são produtos do mercado e estão sujeitos a uma série de restrições editoriais e pedagógicas, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). “Então, o editor não vai produzir um livro com 500 páginas, porque vai sair muito caro e o concorrente, que só tem trezentas, vai vender mais”, diz ela.
Hoje, Vivian tenta vender seu livro para as editoras, no entanto, o seu conteúdo ainda não gerou interesse neste mercado. Além do alto custo da produção, os exemplares venderiam pouco (cerca de 10 mil) devido à baixa demanda de compra nas escolas. Para que essa situação mude, segundo a autora, é necessária uma mudança de mentalidade dos professores, porém ela só será possível partindo de uma política que dê mais liberdade e preparo para os educadores. “Se você ver as leis, você chora de tão bonito. Mas fica um intervalo muito grande entre o que eles falam e a realidade do professor em sala de aula”, conclui ela.