As ferramentas digitais vêm sendo muito utilizadas na produção musical contemporânea. A presença do computador e de diversos softwares é forte, mas apresenta uma série de limitações. Foram elas que o músico José Lima decidiu estudar em sua dissertação de mestrado. Seu objetivo inicial era entender de onde vinham alguns dos problemas que os músicos enfrentavam ao lidar com as tecnologias, mas, depois de analisar por um tempo o repertório escolhido, percebeu que não haviam problemas, mas, sim, circunstâncias influenciadas por diversas questões conceituais. Assim, passou a ter como objetivo a compreensão dessas questões, através da análise do que cada tecnologia se propõe a oferecer.
José Lima escolheu como repertório a ser estudado três peças diferentes do núcleo No Som, projeto de pesquisa que nasceu com o nome Mobile. Os trabalhos são bem diferentes entre si em termos de sonoridade, mas tem em comum a utilização do computador e de suas ferramentas como parte importante da performance. Segundo José, o processo de pesquisa foi muito ligado à dinâmica própria de cada grupo. Assim, realizou uma observação contínua de suas atividades, conversou com eles, realizou entrevistas, leu artigos e trabalhos acadêmicos dos próprios músicos, além de recorrer também a um levantamento bibliográfico.
A ideia com a qual o músico começou sua pesquisa foi de que as ferramentas digitais utilizadas na produção musical limitam a criação. Por um lado, existem programas que colocam o usuário sempre numa mesma direção pré-concebida, com começo, meio e fim, fechando a música em um molde padrão já estabelecido. Por outro, existem ferramentas que direcionam muito menos o usuário, mas exigem conhecimentos em termos de programação que vão além da área musical. Com isso, o problema que alguns músicos apontam é de que os computadores e softwares utilizados hoje são restritivos e não lhes permitem inovar na criação de músicas. Entretanto, José concluiu que na realidade o grande problema não é uma questão prática, mas, sim, as concepções limitadas que muitas pessoas têm do que é fazer música.
Diferente do que alguns artistas foram levados a acreditar, o computador possui, sim, um grande potencial. A questão é que os softwares musicais que existem hoje em dia não o exploram. Isso acontece porque seus criadores tem uma definição de música pré-concebida, de modo que o funcionamento dos programas só proporciona ao músico a chance de fazer algo que esteja dentro dessa mesma linha.
Segundo o pesquisador, se relacionar com esse tipo de tecnologia é como lidar com uma caixa preta. Dentro do computador e dos sistemas digitais existe uma série de informações que não entendemos e que, se tentamos decifrar, nos trarão outras caixas pretas, ou seja, mais dados incompreensíveis. Pensando nisso, o que resta aos músicos é questionar a forma como o computador vêm sendo utilizado e, mesmo sem certos conhecimentos, tentar encontrar modos diferentes de utilizar as tecnologias para ir além do que é oferecido até então, ou seja, dos formatos baseadas em um conceito simplista e tradicional do que é música.