ISSN 2359-5191

13/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 35 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
Diplomacia engajada garante participação brasileira no cenário internacional
Pesquisa mostra que assertividade brasileira foi resultado do alinhamento do Estado com outros países emergentes em busca de representação nas instituições internacionais, mas crise que País enfrenta pode resultar em retrocesso

O alinhamento do Brasil com outros países que possuem interesses semelhantes somado à preocupação do Estado em ter maior participação em órgãos internacionais fortaleceram a diplomacia brasileira e aumentaram o poder de barganha do país em fóruns de governança econômica internacional, como o G20 financeiro. Essa foi a conclusão de Bruno De Marco Lopes em seu mestrado no Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP.

A partir de 2003, quando Lula assumiu a Presidência da República, a política externa brasileira passou a ser classificada como assertiva por autores especialistas. Com o objetivo de compreender tal mudança, Bruno De Marco Lopes analisou o comportamento negociador brasileiro no processo que culminou num novo acordo sobre a distribuição de quotas no FMI em 2010. Segundo Bruno, esse processo teve início em 2004 com a criação do G20 comercial da OMC. “O G20 foi uma resposta ao impasse nas negociações com os Estados Unidos e a União Europeia durante a Rodada Doha acerca dos subsídios agrícolas e também foi a primeira demonstração de força da política externa durante o governo Lula”, disse.

Até 2008, o Brasil se preocupou em fortalecer sua participação em órgãos internacionais como a OMC (Organização Mundial do Comércio), a ONU (Organização das Nações Unidas) e o Conselho de Segurança, além de continuar com negociações como a Rodada Doha. Ampliar a participação do Brasil no FMI via uma reforma no órgão não era prioridade de política externa. O Fundo Monetário Internacional, na época a única instituição multilateral capaz de prevenir e conter crises, perdeu prestígio quando se mostrou incapaz de inibir crises sistêmicas. Em 2008, com os países centro do capitalismo em crise econômica, o governo Lula viu na reforma do FMI uma oportunidade de fortalecer a posição do Brasil no cenário internacional.

Tal reforma, contudo, ainda não entrou em vigor. A medida, que prevê a redistribuição de cotas do FMI de forma a aumentar o poder de decisão dos países emergentes, chegou a ser aprovada pelos países-membros do FMI em 2010, mas até hoje os Estados Unidos não a ratificaram. Sem a reforma no FMI e com a estrutura econômica global desfavorável, a insatisfação dos países emergentes, principalmente dos BRICS, tem aumentado. Em reposta, os BRICS se uniram para formar novas instituições financeiras multilaterais que representassem seus interesses. A primeira foi o Banco de Desenvolvimento do BRICS. Mais recentemente, a China tomou a iniciativa de criar o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB).

Brasil em crise

A atual dificuldade financeira pela qual o país passa preocupa analistas e diplomatas. O Ministério das Relações Exteriores já teve seus recursos cortados de forma significativa, prejudicando a capacidade de engajamento internacional da diplomacia brasileira em fóruns internacionais, assim como a continuidade de projetos de política externa iniciados pelo governo Lula.  Assumir mais responsabilidades, como a participação brasileira no Banco Asiático, num momento de retração é algo questionado por muitos, e uma crise pode afetar o andamento e o engajamento brasileiro nesses projetos.

Segundo Bruno, a diplomacia do governo Lula não tentou subverter as regras, e sim fazer parte do atual sistema através de reformas que integrassem e fortalecessem a posição dos países emergentes nos organismos internacionais. Hoje, o Brasil ainda quer se integrar a esse sistema e tornar instituições multilaterais mais democráticas de forma a refletir a distribuição de poder no sistema internacional.

Hoje, a diplomacia brasileira continua engajada na reforma dos principais mecanismos de tomada de decisão de forma a torná-la mais representativa. Porém, se as potências mundiais insistirem em não adaptar através de reformas a arquitetura financeira internacional à nova realidade econômica, o resultado será a prolongação de conflitos com as potências emergentes e talvez a criação por estas de novas instituições multilaterais que concorrerão com o FMI e o Banco Mundial. Esse fenômeno permitirá que as novas instituições sejam moldadas segundo valores e normas defendidas pelas nações emergentes, o que tornará esses países mais independentes e o cenário mundial mais diverso.

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