ISSN 2359-5191

12/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 48 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Pesquisa refuta teoria que explica extinção dos dinossauros
Análise de rochas permitiu contestar hipótese que atribui vulcanismo como determinante para desaparecimento dos grandes répteis
Os dinossauros começaram a habitar a Terra no período Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos / Fonte: Arquivo OGlobo

As catástrofes naturais associadas à intensa atividade vulcânica do período Cretáceo não foram responsáveis pela extinção dos dinossauros. Tal afirmação, depreendida do trabalho de mestrado do pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP)  Pedro Vinícius Guillaumon, pôde ser feita mediante a análise da presença de minerais em amostras rochosas de 17 vulcões ao redor do mundo.

Dentre as teorias que se propõem a explicar o que determinou o desaparecimento da fauna terrestre há cerca de 66 milhões de anos, a que permanece como mais aceita pela comunidade científica atribui a catástrofe a um grande meteorito. Sua queda, responsável por abrir uma cratera (Chicxulub) de cerca de 180 km em Yucatán, litoral do México, teria levantado uma nuvem espessa de poeira (composta por minerais como tório e irídio) e gases (CO2 , metano, vapor d’água) que bloqueou a luz solar. O processo foi responsável pela morte dos seres fotossintetizantes e pelo aumento da temperatura do planeta.

Outra hipótese, no entanto, atribui tal cenário à intensa atividade vulcânica característica do período. Esta teria sido responsável por expelir toneladas de materiais tóxicos, que causaram o aquecimento global e a acidificação dos oceanos e das chuvas. O trabalho de Guillaumon, em parceria com a Universidade de Berkeley, nos EUA, oferece subsídios para que essa tese seja contestada.

A análise do processo de formação do sistema solar permite afirmar que os elementos que o compõe possuem uma origem comum. Estrelas, asteroides e planetas teriam sido formados, portanto, a partir de um mesmo conglomerado de gases e partículas. Partindo deste princípio, a concentração de oligoelementos ou elementos-traço, minerais encontrados na natureza em quantidades muito pequenas, (da ordem de partes por milhão ou bilhão) deveria ser a mesma na Terra, no Sol ou em um corpo celeste, por exemplo.

Tendo os valores de concentração dos oligoelementos no sistema solar determinados a partir de estudos por espectroscopia, buscou-se fazer medições na crosta terrestre. O fato da abundância dos elementos-traço na camada superior não ser compatível com o observado fora da Terra, permitiu ao pesquisador supor que estes devessem estar presentes em maior quantidade no manto e no núcleo do planeta, a fim de que a média observada no sistema solar fosse mantida.

Na ausência de técnicas que viabilizam o estudo de camadas mais profundas, Guillaumon passou a análise de rochas vulcânicas, originadas, em geral, da solidificação do magma proveniente do manto superior. Viagens e parcerias com universidades ao redor do mundo possibilitaram a coleta de amostras de 17 vulcões diferentes, da Europa, América do Sul, Ásia e África. “O ideal seria ter medições de toda a superfície, mas já se tem várias da crosta e, pegando do manto, começa-se a ter subsídios para elaborar uma sistemática, analisar os dados estatisticamente”, afirma.

O método mais eficaz para a medição da presença dos elementos-traço consiste na irradiação de nêutrons. A amostra é transformada em pó, colocada em um reator e bombardeada por partículas sem carga que, se reagirem com um material estável, são “capturados” por ele. Ao receber um nêutron, o material passa ao estado “instável” e se torna radioativo. Decaindo, este pode ter sua radioatividade medida a partir das partículas gama (γ) que emite. Tais gamas, identificados por seu espectro e pela energia que liberam, costumam ser muito característicos de cada elemento. Consegue-se inferir, desta forma, qual é o elemento em questão e quantificar sua concentração em uma amostra.

Com o método citado, observou-se que a concentração de irídio - um exemplo de oligoelemento - nas amostras era de 0,1 ppb (partes por bilhão). A crosta terrestre, todavia, apresenta uma abundância dez vezes maior e no sistema solar esse valor chega a 200 ppb. Esses dados permitiram concluir que os vulcões não foram responsáveis pela liberação em massa deste elemento. Por sua vez, as medições realizadas na região da cratera Chicxulub, apontaram concentrações de irídio muito superiores à da crosta, próximas as encontradas no meteorito (200 ppb). “O estudo traz mais uma medida que corrobora para a afirmação de que a extinção dos dinossauros por meteoros é mais consistente”, completa Guillaumon.


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