A partir de uma rocha encontrada pelo engenheiro de minas Luiz Alberto Menezes, em Cajati, município no sul do estado de São Paulo, foi descoberto um novo mineral: a melcherita. O processo de análise e descrição foi feito pelo professor Daniel Atencio, do Instituto de Geociências (IGc/USP), juntamente com Marcelo Andrade, pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).
A melcherita foi o segundo hexaniobato encontrado no mundo; o primeiro havia sido descoberto em 2014, na Noruega. Os hexaniobatos são compostos que possuem octaedros de nióbio e oxigênio, unidos em grupos de seis, e até então só existiam em substâncias sintetizadas em laboratório. Elas são importantes para setores como a indústria química e a medicina, por exemplo, atuando em drogas inorgânicas que imobilizam vírus, inclusive o da aids.
Apesar das recentes descobertas, os hexaniobatos devem continuar sendo sintetizados para esses fins, já que aparecem em quantidades muito pequenas na natureza. Ainda não foram feitos estudos comparativos entre o hexaniobato natural e o sintético.
Além de nióbio e oxigênio, a melcherita é composta por bário, cálcio, magnésio e água. Tem coloração bege e foi encontrada numa pedreira de carbonatito em Cajati, 232 quilômetros ao sul da cidade de São Paulo; dessa mesma pedreira vieram todos os cinco minerais descobertos no estado. Já o nome é uma homenagem ao professor Geraldo Conrado Melcher, da Escola Politécnica, um dos primeiros a estudar a rocha onde o mineral foi encontrado.
Descobrir minerais
O processo de comprovação de um novo mineral é trabalhoso. No caso da melcherita, levou cerca de dois anos, entre análises químicas e cristalográficas que permitem detectar sua estrutura, composição e propriedades. Depois de perceber que essas características eram realmente únicas, Atencio encaminhou uma descrição detalhada para a Associação Mineralógica Internacional (IMA) e recebeu a aprovação no final de abril deste ano. O próximo passo é publicar o trabalho numa revista científica.
A melcherita é o número 30 da lista de minerais catalogados por Atencio, um dos poucos que se dedicam a essa atividade no país. “A Itália, que é pequena, tem mais de 200 pessoas fazendo esse trabalho que eu faço”, comparou. No Brasil, foram descobertos 67 novos minerais até hoje. “Isso é pouquíssimo. Por exemplo, em outros países, numa única pedreira descobriram 200 minerais diferentes”, completou o professor.