Um grupo de pesquisadores do Instituto de Biociências da USP, coordenado pela professora Maria Magdalena Rossi, em parceria com um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) da Argentina, descobriu que o meio no qual os tomateiros são cultivados influencia diretamente na qualidade nutricional, em particular na quantidade de vitamina E dos frutos produzidos. O resultado deste estudo afirma que quando o tomate é cultivado em ambientes propícios ao seu desenvolvimento, isto é, sem estresse, produz menos vitamina E do que quando cresce no seu habitat natural, em condições de estresse (como alta irradiância).
O tomate é um dos vegetais mais consumidos no ocidente tanto in natura como em produtos industrializados , como o ketchup e o molho de tomate. Pelo alto consumo e conteúdo nutricional, o tomate é um importante componente da nossa dieta, fornecendo grande quantidade de vitaminas e compostos antioxidantes, como os carotenóides, além da vitamina E. Portanto, entender os mecanismos de síntese dessa vitamina em uma das frutas mais consumidas no mundo ocidental pode gerar enormes ganhos nutricionais para a população.
Ao longo dos séculos, os seres humanos domesticaram espécies de tomates ao selecionar características como a cor, o tamanho e a consistência do fruto sem levar em conta aspectos nutricionais. O processo de domesticação resultou em cultivares com pouca variabilidade genética de frutos grandes, vermelhos e de amadurecimento homogêneo.
O grupo de pesquisadores estudou o gene VTE3, que codifica uma enzima que atua no processo de biossíntese da vitamina E, em duas espécies de tomateiro: Solanum pennelli (espécie selvagem) e Solanum lycopersicum (espécie cultivada). A equipe constatou que quando as plantas crescem em estufa (sob condições de cultivo controladas) o gene expressa-se menos do que na espécie de tomateiros selvagens. A questão era descobrir o por quê.
Os pesquisadores encontraram a resposta na epigenética, ramo da biologia que estuda a herdabilidade de características que não estão determinadas pela sequência do DNA. “O tomateiro cultivado apresenta dois epialelos para o gene VTE3 (variantes de um mesmo gene que não possuem alterações na sequência de DNA) que se diferenciam pela abundância de um grupo químico associado a uma região do gene (metilação). Enquanto as plantas crescem na estufa, o gene VTE3 se mantém metilado, o que resulta em baixos níveis de expressão; já quando as plantas crescem no campo, o gene se desmetila e maiores quantidades de vitamina E são produzidas. Enquanto as plantas sejam mantidas no mesmo ambiente, o nível de metilação é herdável, ou seja, passado para as gerações subsequentes”, afirma Maria Magdalena.
A coordenadora do grupo, ressalta a importância do conhecimento deste mecanismo, para que seja possível melhorar a qualidade nutricional dos tomates contribuindo para o aprimoramento da dieta de grande parte da população mundial.