ISSN 2359-5191

13/01/2006 - Ano: 39 - Edição Nº: 24 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Agressão às mulheres é tema de peça em cartaz na ECA

São Paulo (AUN - USP) - Três mulheres com o mesmo nome, Odete, participam de um programa de televisão. Engole Sapo, o nome da atração, pode ser visto como uma paródia do Beija Sapo, da MTV, em que uma menina – a princesa – escolhe um dos três meninos – os sapos – para ser seu príncipe. No caso da peça, o movimento é o contrário. O príncipe é que vira sapo; e a vida das Odetes, um inferno.

O espetáculo se desenvolve em três planos distintos, mas que dialogam entre si. Um é o do mundo da fantasia, outro, da televisão, e o último é o que mais se aproxima do mundo real. A montagem é um trabalho realizado conjuntamente por alunos de Artes Cênicas do 2o e 4o anos da ECA – Escola de Comunicações e Artes, que formam o Grupo Teatro do Óbvio.

O Brasil libera o ranking mundial de violência contra a mulher. De acordo com uma pesquisa feita pela Sociedade de Vitimologia Internacional, chega a 25% o número de mulheres no país que sofrem violência, sendo que dois terços dos casos têm como autor o próprio marido ou companheiro.

Segundo Rafael Truffaut, um dos atores e idealizadores, a idéia de fazer uma peça com a temática da violência doméstica surgiu do trabalho de Projeção Teatral (PT) de Maria Júlia Martins, que também atua no espetáculo. O PT é realizado por estudantes ao final da graduação de cênicas.

Uma das características mais marcantes do grupo é trabalhar com o humor, mesmo quando se trata de um tema pesado. Truffaut diz que estimular o público a rir de algo terrível é um tipo de provocação que leva as pessoas a refletir mais sobre o assunto. O final da peça, porém, revela um momento de anticlímax, aumentando ainda mais a sensação de desconforto no espectador.

Rafael interpreta um travesti (Lilith Boo) que apresenta o programa de TV e está em cena durante quase todo o espetáculo. A escolha pela personagem reforça, de acordo com ele, a imagem de uma fada madrinha às avessas, que propõe a violência como resposta à agressão sofrida pelo marido de uma das Odetes. Cada uma delas encontra um modo de responder ao abuso, da agressividade ao silêncio. Para Rafael, a peça não se propõe a incentivar nenhum dos caminhos: “Fazemos nossa crítica mostrando o que acontece, não propondo uma solução.”

A peça estará em cartaz até o dia 18 de dezembro no Teatro Laboratório da ECA, localizado na Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa J, Cidade Universitária. Os horários de exibição são 21 horas, às sextas e sábados, e 20 horas, aos domingos. A entrada é gratuita.

“Às vezes eu sinto uma dor, como se alguém estivesse apertando meu coração e arrancando do meu peito. Não é só um sentimento, é uma dor física mesmo”.

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