São Paulo (AUN - USP) - A norma brasileira que verifica se contaminantes do solo são biodegradáveis está errada. Esta é a conclusão da dissertação de mestrado da engenheira Gabriela Sá Leitão de Mello, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP). Segundo ela, as diretrizes da Cetesb são baseadas nas normas holandesas, mas os solos brasileiros, de clima tropical, possuem características diferentes dos solos temperados da Europa.
O resultado é importantíssimo para os estudos de biorremediação de solos. Segundo a orientadora do trabalho, professora Dione Mari Morita, “É uma área de pesquisa ainda recente no Brasil, com pouco mais de dez anos. Esta constatação nos leva a crer que muitos resultados obtidos até agora devem ser revistos”.
O projeto da dissertação na verdade era outro. Gabriela pretendia utilizar microorganismos para biodegradar um derivado do petróleo, o fenantreno, e avaliar a biodegradação aplicando o teste respirométrico de Bartha.
Quando foi esterilizar as amostras de solo, para que pudesse analisar somente a ação dos microorganismos introduzidos, e não dos que já estavam no solo, teve uma surpresa. Esperava-se uma pequena liberação de gás carbônico com a esterilização, mas os respirômetros acusaram grande quantidade do gás.
“Em nossos experimentos, as amostras de solo esterilizadas não deveriam produzir gás carbônico, o que indica que o mesmo pode ser resultante de reações químicas, devido à adição ou à presença natural do carbonato de cálcio, e não somente da atividade microbiológica”, afirma Gabriela. E a norma da Cetesb, recomenda a adição do carbonato de cálcio no solo.
Ou seja, o estudo comprovou que o solo brasileiro possui naturalmente carbonato de cálcio, e que quando a normatização da Cetesb recomenda a adição deste, baseia-se num tipo de solo que não o brasileiro.
Para Dione, a partir de agora a norma brasileira para estudos na área de biodegradação de contaminantes no solo poderá ser questionada. “Afinal, esta pesquisa é um importante documento para isso”, afirma a professora.
Gabriela ainda lembra a importância dos estudos de biorremediação para o Brasil. O último relatório da Cetesb sobre áreas contaminadas afirma que existem no estado de São Paulo 1.504 área contaminadas. A maioria destas está sem propostas concretas para remediação. Seria de fundamental importância o investimento na pesquisa em biorremediação, para a utilização de microorganismos na recuperação dos solos, e não somente o tratamento físico-químico.