São Paulo (AUN - USP) - Uma tese de doutorado em oceanografia biológica prova que a concentração de detergente nas regiões de estuário prejudicam o crescimento e a reprodução do robalo-peva. A pesquisa foi realizada por Arthur José da Silva Rocha com a espécie Centropomus parallelus, de alto valor comercial e encontrada em toda a costa brasileira. O objetivo era investigar os efeitos toxicológicos do DSS C-12 (dodecil sulfato de sódio linear), um dos componentes do detergente, sobre a alocação de energia do robalo-peva em diferentes salinidades.
Segundo o autor, vários elementos importantes estão relacionados nesta pesquisa. O alto valor comercial desta espécie de peixe, a quantidade de poluentes que estão sendo despejados nos oceanos e a degradação pela poluição dos estuários, ambiente essencial para a reprodução da vida marinha. Os estuários são locais em que os rios encontram o mar, ricos em nutrientes e em diversidade. São utilizados por 80% dos peixes marinhos em algum momento de suas vidas, para se alimentar, proteger ou reproduzir. A degradação ambiental é muito grande nestas áreas, causada pela urbanização do litoral e criação de pólos industriais nas margens dos rios. No Brasil, que concentra 56% da população na faixa litorânea e onde 90% das residências não têm coleta e tratamento de esgoto, este panorama atinge dimensões trágicas.
Para a realização da pesquisa, o autor expôs indivíduos jovens da espécie a concentrações diferentes da substância DSS C-12: 0,10 e 0,25 miligramas por litro. A segunda variável é a concentração de sal na água: 5, 20 e 30 partes por mil. O tempo de exposição também variou: 15 e 30 dias. As 12 amostras obtidas foram analisadas segundo o critério da bioenergética, cálculo de quanta energia é gasta na manutenção das funções vitais do organismo, ou seja, na sobrevivência, e quanta é dedicada ao crescimento e à reprodução. Este valor é obtido de diversas variáveis como a quantidade de energia consumida, a quantidade eliminada por meio de fezes e urina, a quantidade gasta na manutenção do metabolismo e a quantidade que pode ser armazenada em forma de gordura ou aplicada no crescimento do animal.
Os resultados indicam que quanto maior a concentração de composto químico e a salinidade, mais difícil se torna a sobrevivência do peixe. Se o indivíduo utiliza mais energia para sobreviver, não consegue crescer ou se reproduzir, e coloca em risco os estoques pesqueiros e a manutenção da espécie. Essa dificuldade aumenta com o tempo de exposição e o indivíduo pode chegar à morte com a exposição permanente ao poluente. O autor conclui que “estes dados reforçam a importância de pensar e desenvolver sistemas eficientes de tratamento dos efluentes, bem como o contínuo monitoramento dos mesmos”.