São Paulo (AUN - USP) - A cultura é muitas vezes vista como algo secundário ou de privilégio de poucos. Entretanto, a tese de Doutorado da professora Sibele Cazelli, da PUC do Rio de Janeiro, traz novos dados que ajudam a desmistificar esse pré-conceito. Sua pesquisa revela que, apesar de muitos jovens viverem em condição de exclusão cultural, a escola e a família favorecem a inclusão deles nos espaços culturais da cidade.
Com palestra que levava o mesmo título da tese – “Ciência, Cultura, Museus, Jovens e Escolas: quais as relações?” – Sibele apresentou na Faculdade de Educação da USP (FEUSP) os resultados da sua pesquisa, a convite do grupo de pesquisa em educação não-formal da FEUSP, sob coordenação da professora Martha Marandino.
Sibele realizou uma pesquisa quantitativa com o objetivo de investigar algumas características associadas aos jovens, considerando seu contexto familiar e escolar, nas oportunidades de acesso a instituições culturais no Rio de Janeiro, especificamente a museus, que vêm ocupando lugares de destaque na rede de instâncias culturais, por motivar os jovens a dialogar com as ciências, sem deixar de lado a sociabilização e o entretenimento, e por “mostrar novas formas de organização do conhecimento”, como afirma Martha.
Para a realização do estudo, Sibele aplicou questionários a mais de 2000 alunos de 8a. série de uma amostra probabilística de 48 escolas municipais e particulares da cidade do Rio de Janeiro. Uma das primeiras conclusões levantadas por ela é a de que os jovens do Rio de Janeiro visitam museus e têm acesso a eles por meio da escola em que estudam, principalmente, ou da família. Um dado novo levantado pela pesquisa é que “escolas municipais, independentemente do nível socioeconômico, vão a museus”, afirma Sibele. Com o cruzamento de dados, também se percebeu que é mais vantajoso para os alunos, pertencer a uma escola municipal, quando o foco é acesso a museus, do que em uma escola particular de nível socioeconômico baixo (média obtida a partir do questionário respondido pelos alunos), porém superior à municipal.
Alguns outros indicadores têm efeito sob o acesso a bens culturais, como a freqüência de diálogo familiar sobre assuntos sóciocientíficos e a estrutura familiar dos jovens. Arranjos familiares dos tipos nuclear (quando os pais vivem juntos) e monoparental (mãe ou pai presentes) as chances de acessos às instituições museológicas é maior, devido ao incentivo a mais atividades extracurriculares e o ambiente domiciliar mais propício à sociabilização e ao diálogo. A conversa dos pais com os filhos sobre televisão, filmes e livros “indica uma preocupação dos pais com a transmissão da herança cultural”, como expressa Sibele em sua tese.
Uma conclusão importante do trabalho de Sibele Cazelli é a de os recursos culturais do contexto familiar (capital cultural) são mais importantes do que os econômicos na promoção do acesso dos jovens às instituições museológicas. Em sua pesquisa, as chances de acesso a museus não sofreram alterações com a presença de maior ou menor capital econômico na família. As escolas municipais possuem um papel “ativo e equalizador”, particularmente relevante para os jovens cujas famílias têm menor volume de capital cultural. Por esta razão, o capital social das escolas (ações, mobilizações para saídas culturais, investimentos) contribui de forma decisiva para que os jovens ampliem suas experiências culturais, principalmente os jovens da rede pública de ensino.
Sibele encerra sua apresentação com a proposição de que “os resultados, especialmente o relativo ao fomento que a escola concede às visitas às instituições museológicas, reforçam a relevância de uma política mais ativa e efetiva de aprimoramento dos acervos, de preservação das coleções e dos programas educacionais dos museus”. Este tipo de política certamente reduziria a exclusão cultural, já que as escolas, aliadas ao capital cultural proveniente das famílias, têm o potencial de aproximar os jovens dos museus.