São Paulo (AUN - USP) - Na FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a Educação é a segunda área das Ciências Humanas a demandar apoio, depois da Psicologia, segundo Marília Spósito, coordenadora da FAPESP e presidente da Comissão de Pesquisa da Faculdade de Educação da USP (FEUSP). Em 2004 foram 134 solicitações de auxílio, contra 85 da psicologia, segundo dados fornecidos pela FAPESP. Isto mostra grande interesse por pesquisas em Educação; entretanto, as humanidades em geral não recebem volume tão grande de investimentos quanto outras áreas.
Pesquisas científicas, nas áreas de exatas e biológicas, especialmente saúde, exigem muito mais recursos que nas Ciências Humanas e Sociais, que em 2004, considerando suas 27 subdivisões, receberam 7,07% de todo recurso desembolsado pela FAPESP. Em termos de infra-estrutura, a demanda requerida pela Educação não é muito grande. "As Ciências Humanas têm dificuldade de pensar em metas muito ambiciosas neste sentido", afirma Spósito, durante Seminário sobre Pesquisa Qualitativa em Educação, que ocorreu recentemente na FEUSP. “Os objetivos [do seminário] eram permitir aos participantes, particularmente os alunos e docentes do CEPPPE (Centro de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas de Educação) da FEUSP, uma reflexão sobre a natureza e os principais desafios das pesquisas qualitativas em educação. A atividade é parte da programação regular de seminários do Centro e os objetivos foram plenamente atingidos”, como afirmou Romualdo Luiz Portela de Oliveira, professor da FEUSP e coordenador do Seminário.
Pensar em metas ambiciosas é um dos desafios institucionais para adensar a pesquisa em Educação. Outro é a necessidade de se investir na formação mais completa do estudante de pedagogia.
A pesquisa em Educação está em um momento favorável, mas ao mesmo tempo ainda é olhada por pesquisadores de outras áreas como pouco rigorosa e confusa. Como metodologia de pesquisa, a que mais tem sido utilizada pela Educação é a pesquisa qualitativa, que traz consigo uma bagagem teórica de outras áreas das Ciências Humanas para analisar mais profundamente as questões propostas.
No âmbito das Ciências Humanas, há uma hierarquia entre as áreas e a Educação não está no topo dela. De acordo com Marília Spósito, este receio com relação à Educação tem um fundo de verdade, porque "a Educação transita superficialmente por outras disciplinas. Por exemplo, temos a Sociologia da Educação e História da Educação. A pesquisa nessa área não é auto-suficiente". Para Spósito, a graduação precisa oferecer mais suporte a quem quer seguir a carreira acadêmica, como, por exemplo, oferecendo disciplinas optativas das grandes áreas necessárias à pesquisa, como Sociologia, Antropologia e História.
Qualitativa x Quantitativa
Na década de 1980 houve um "boom" da pesquisa qualitativa. Era uma forma de criticar o positivismo, visto pelos pesquisadores como a base ideológica da pesquisa quantitativa (projetada para gerar medidas precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística), além de poder dar conta do complexo da realidade, porque este método em si não responde os "porquês" das questões analisadas.
Para Spósito, a prevalência de um método de trabalho sobre o outro “era uma noção legítima na época, mas equivocada porque os dados estatísticos foram abandonados e o Estado passou a ser dono dos números. O pesquisador não pode estar à mercê dos números, sem criar um arsenal crítico-teórico para analisá-los".
O ideal é que haja uma mútua alimentação entre pesquisa quantitativa e qualitativa, porque elas, isoladas, chegam a um impasse. O professor Romualdo concorda e acrescenta que deve haver esta alimentação “sem dúvida, particularmente na área de políticas públicas onde o objetivo é impactar sistemas como um todo. Dessa forma, uma e outra têm virtudes e limitações que só podem ser superadas com uma abordagem mista”. Por muito tempo, foram realizados estudos de caso (muito utilizados em pesquisas qualitativas) sobre o desempenho de estudantes de cursos noturnos, mas todos chegavam às mesmas conclusões, porque não foram feitos diagnósticos mais amplos - algo que poderia ter sido conseguido através do cruzamento com pesquisas quantitativas.
A pesquisa qualitativa pode ajudar a propor respostas para problemas e desafios da sociedade. Por isso muitos pesquisadores da década de 80 tinham certa pretensão de que seu trabalho seria a solução. Algumas pesquisas chegaram a se tornar, sem qualquer mediação, políticas públicas na área de Educação. Isto torna o pesquisador mais propositivo do que produtor de conhecimento.
Atualmente, há uma redefinição no campo da pesquisa nas Ciências Humanas, devido às transformações da sociedade atual. Se a vida coletiva é mais complexa, a pesquisa também é. Cabe ao pesquisador definir os métodos de investigação, de forma que a pesquisa responda aos seus objetivos específicos, seja submetida à crítica e produza, efetivamente, conhecimento.