São Paulo (AUN - USP) - Aumento da procura pelo voluntariado, união dos alunos em torno de atividades esportivas pacíficas, menos desistência e nenhum ato de agressão ou suicídio entre seus acadêmicos nos últimos anos são os bons resultados que a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) alcançou após promover mudanças em seu currículo e na sua estrutura de ensino há quase uma década, buscando formas de integrar melhor o aluno e lhe dar apoio, além de promover uma maior humanização do aprendizado em saúde.
Famosos pela grande carga horária e pressão que exercem sobre seus acadêmicos, os cursos de Medicina também sempre contaram com a péssima reputação de apresentarem os mais altos índices de uso e abuso de álcool e drogas, bem como números alarmantes de suicídios e desistências entre seus alunos. Preocupados em dar qualidade de vida às populações que atende, as escolas médicas parecem não ter o mesmo cuidado com seus graduandos. Ou pareciam, pois, para tentar reverter essa situação, a FMUSP acreditou em grandes mudanças, algumas delas pioneiras entre as faculdades de Medicina do país.
O primeiro passo foi a criação do Grupo de Apoio ao Aluno (GRAPAL), formado por psicólogos e psiquiatras e aberto para o atendimento individual dos estudantes. Todo calouro da faculdade recebe uma carta-convite para uma primeira entrevista com um terapeuta do grupo, e a decisão de ir e iniciar um possível tratamento psicoterápico deve partir do próprio estudante. “É reconfortante para todos nós saber que há um espaço em que você possa ser ouvido, e muitas vezes necessário”, conta o ex-aluno Thales Dalessandro, formado em 2003. Ele continua informando que, antes do GRAPAL, a FMUSP registrava pelo menos um caso de suicídio por turma na graduação, fato que não ocorreu pelo menos nos últimos nove anos.
Em 1998 veio a primeira mudança radical na grade curricular da FMUSP, com a introdução do chamado Currículo Nuclear. Com ele, foram criadas matérias voltadas para a humanização dos graduandos desde o primeiro ano, como as de Bases Humanísticas da Medicina I e II. Além disso, os alunos do primeiro ao quarto ano passaram a contar com 30% de carga horária livre para escolher disciplinas optativas, o que deu um grande impulso à iniciação científica e ao atendimento voluntário de pacientes no HC e fora dele.
O último passo foi o início do projeto Tutores, uma forma pioneira de colocar alunos dos diferentes anos de graduação junto a um médico assistente do HC – o tutor – para discutir os problemas e as dificuldades da sua formação, bem como encontrar soluções. Os grupos são pequenos, em geral com apenas seis alunos (um de cada ano da graduação) e os tutores também fazem grupos próprios de supervisão com psicólogos e pedagogos.
Com toda essa rede de apoio estruturada, a FMUSP hoje se orgulha de atitudes antes impensáveis entre os veteranos de muitos anos de formado, como o abandono da sua competição esportiva mais tradicional por causa das brigas entre as torcidas das escolas médicas, e a Semana de Recepção aos Calouros, totalmente organizada e conduzida por acadêmicos para receber e integrar seus novos alunos, sem margem a violências.