Uma pesquisa da USP foi responsável por realizar o bloqueio do mecanismo da dor usando luz. O trabalho de doutorado de Marcelo Victor Pires de Souza, do Insituto de Física, analisou a eficácia de tratamentos fototerápicos em cérebros de camundongos e ratos e permitiu constatar um aumento de cinco vezes no limiar da dor.
A primeira etapa da pesquisa foi estudar como a luz se distribui, como se dá sua penetração em cada ponto das cabeças do ratos. Depois, o desafio foi a avaliação das propriedades óticas cerebrais dos roedores. Determinou-se as regiões que absorvem mais luz e as que ocorrem mais espalhamento, o que permitiu caracterizar a totalidade do cérebro das cobaias.
Passada essa fase preliminar de pesquisa, Sousa procurou estudar o aspecto comportamental das cobaias. Para tal, mecanismos para causar a dor propositalmente, a fim de quantizar os movimentos involuntários obtidos, foram utilizados. Um sistema de ponteiras era responsável por fazer pressão na pata do camundongo, aumentando progressivamente a força aplicada até que este desse um flint, nome dado ao movimento involuntário proveniente da dor. Observou-se que os animais normais davam flints com uma média de 20g de força e os que receberam a terapia com luz, no ponto máximo da atenuação da dor, chegavam a dar flints em cem ou até 120 gramas, ou seja, estes se tornaram cinco vezes mais insensíveis a dor.
A fototerapia consistia na raspagem da cabeça do camundongo e aplicação do laser com potência 300 mW (miliwatts) e comprimento de 808 nm (nanômetros) no “bregma”, ponto de união das suturas sagital e coronal do crânio. Essas especificações eram suficientes para que o cérebro do roedor fosse iluminado como um todo.
Os neurônios responsáveis por estímulos corpóreos - como o tato - e reações involuntárias estão localizados em uma região do cérebro chamada córtex somestésico primário . “Cada ponto de sensibilidade do corpo possui uma correspondência nessa área”, explica o pesquisador. Ao iluminar essa região, conseguia-se um efeito de atenuação da dor do corpo todo do camundongo, seja ela causada por calor, frio, inflamação ou pressão, como no exemplo citado.
A pesquisa dividiu as cobaias em três grupos, que foram expostos aos feixes de luz por tempos diferentes. O que ficou em contato com a iluminação intracraniana por 24 segundos teve resultados pouco expressivos, similares ao grupo controle, em que não houve intervenção luminosa. Os que receberam, por sua vez, sessões de dois e dez minutos apresentaram resultados muito parecidos. “Isso é um bom indício de que a dose ótima de exposição está nessa faixa de tempo”, explica Sousa.
A análise do cérebro dos camundongos buscava a determinação dos locais onde havia maior concentração de glutamato, neurotransmissor que conduz a dor, e PAP (Prostact Acid Phosphatase) um analgésico endógeno, responsável pelo controle da mesma. As cobaias que receberam tratamento com laser tiveram uma liberação de PAP muito maior em comparação à de glutamato, ou seja, apresentavam menos neurotransmissores que conduzem a dor e maior concentração do analgésico endógeno.
Em decorrência do metabolismo mais acelerado dos roedores, pôde-se identificar também que já em um período de 24h após a sessão, era como se a os efeitos da terapia tivessem sido zerados nas cobaias. Em seres humanos, no entanto, estima-se que a interrupção dessa atividade demore um pouco mais. Observações clínicas demonstram que cerca de duas ou três sessões por semana sejam suficientes para que se fique sem dor nos outros dias. “O ideal mesmo seria que os seres humanos tivessem duas ou três aplicações por dia; redurzir-se-ia assim bastante a quantidade de dor”, explica Sousa, porém tal procedimento é pouco viável.
No Brasil, em 2013, dados da Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED) atestavam que cerca 30% da população era diagnosticada com dor crônica, nome que se dá a dores frequentes e intensas que deixaram de advertir o organismo por causa de processos mal adaptados de recuperação. Segundo Oliveira, 2% da população é desabilitada por dor, ou seja, tem uma dor tão intensa que esta chega a atrapalhar as atividades diárias. A fototerapia serviria como uma solução bem menos invasiva ao tratamento desse tipo de dor. A técnica apresentou uma série de vantagens em relação a outros tipos de tratamento, já que,se comparada a medicamentos convencionais, ela ainda não apresentou condições adversa ou efeitos colaterais.