ISSN 2359-5191

10/04/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 01 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Ilustrações dos mapas do século XVI caracterizavam o território brasileiro
Em seminário, professor explica a razão dos desenhos nos documentos cartográficos

São Paulo (AUN - USP) - Os índios selvagens, a extração do pau-brasil, mas principalmente os papagaios foram as ilustrações clássicas que acompanhavam o território brasileiro nos mapas do século XVI. Mais do que decorações, esses desenhos representavam características dos locais e davam maior orientação geográfica, numa época em que o mundo estava sendo descoberto. Esse foi o tema apresentado pelo professor Dante Martins Teixeira, do Museu Nacional (Rio de Janeiro) no primeiro de uma série de seminários que será realizada todas as quartas-feiras pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, desde o dia 21 de março.

Como explicou o professor, os cartógrafos do século XVI tinham um trabalho delicado. Baseavam-se em informações vagas e imprecisas de viajantes sobre terras que eles nunca haviam visitado e eram influenciados pelos mitos e lendas sobre o Novo Mundo que fascinavam o povo europeu e despertavam as mais variadas fantasias. O resultados eram mapas vagos em seus traçados, mas com ilustrações de seres vivos reais ao lado de unicórnios e dragões, além de longos comentários sobre a natureza e os habitantes locais.

Há mapas com ilustrações detalhadas, de rituais e cenas de índios pescando, combatendo, e até mesmo referências aos engenhos de cana. A presença de animais exóticos, como o tamanduá, a ema e a preguiça, também era marcante. Esses anexos às informações geográficas tinham de extrema importância para a identificação dos territórios, substituindo o vazio de dados técnicos. Davam aos mapas também valor estético e econômico, num contexto de europeus muito interessados pela expansão do mundo que conheciam antes.

A evolução científica, as teorias de Galileo Galilei sobre a terra e a expansão européia por mais territórios causaram o progresso das técnicas cartográficas, no século XVII. Os mapas passaram a ser mais fiéis aos contornos territoriais, com indicações de meridianos e latitudes. As antigas ilustrações cada vez mais se tornaram apenas artigos decorativos, sem informações de relevância geográfica, diminuíram de quantidade e migraram para a periferia de mapas menos estilizados.

A “caça às bruxas” promovida pela Igreja Católica, nesse século, também teve papel na diminuição da presença de figuras nos mapas europeus. Os papagaios, antes das descobertas do Novo Mundo uma espécie desconhecida, geraram muita curiosidade por serem seres falantes, ao mesmo tempo em que foram relacionados a seres endemoniados. Uma das características destinadas às “bruxas” era a posse de um animal que falasse, o que significava uma personificação do diabo. Há relatos de homens que contam como conversaram com as aves, que responderam a perguntas como “onde você mora?” ou “o que você faz?”.

O século XVIII apenas confirma a mudança. Os mapas ilustrados viram apenas artigos de luxo, e hoje são documentos históricos. Já não havia novidade, o mundo já não era tão desconhecido assim e as terras antes que despertavam fascínio se tornaram áreas de influência e colonização. Os mapas só continham informações de caráter geográfico, importantes para um momento da história em que as crenças no fabuloso universo desconhecido converteram-se em riquezas a ser exploradas, mão de obra escravizada e terras a ser conquistadas.

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