São Paulo (AUN - USP) - “Extinção”, obra mais recente de Paulo Arantes, pela Boitempo Editorial, é um grito a respeito da falência da elite intelectual brasileira. Essa colocação foi feita pelo professor de Sociologia da Unicamp e autor do prefácio do livro, Laymert Garcia dos Santos no seu recente lançamento, que aconteceu na Antiga Biblioteca da História na FFLCH. O evento foi assistido por grande número de estudantes da USP e professores, com a participação de Laymert e Francisco de Oliveira, professor aposentado de Sociologia da USP, na mesa de discussões.
“Extinção” reúne escritos frutos da reflexão e trabalho do professor aposentado de Filosofia da USP e tem como assunto central o “estado de exceção”, também conhecido como “estado de sítio”, que consiste na suspensão provisória do Estado de Direito pelo soberano. Mais do que isso: o livro analisa e critica a situação mundial contemporânea ao abordar de forma detalhada o imperialismo norte-americano e a falência do petismo.
A extinção de que trata o título pode dizer respeito a extinção de idéias, opções, política e vida, entre outras coisas, de acordo com a interpretação do leitor, já que Arantes, que emprestou o título de um romance austríaco, prefere não enquadrar sua significação.
Assim como Laymert, Chico de Oliveira, concorda que essa afirmação de extinção também se refere ao papel do intelectual na sociedade e citou como exemplo o decreto do governador José Serra, que criou uma Secretaria do Ensino Superior, integrou as três universidades estaduais ao Siafem (Sistema Integrado de Administração Financeira para o Estado e Municípios de São Paulo) e ensaiou uma modificação na estrutura do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Paulistas). Tais medidas, apontadas por grande parte dos professores e estudantes dessas universidades como uma ameaça a autonomia universitária, por serem apoiadas e terem a participação de José Aristodemo Pinotti, que já foi reitor da Unicamp, configuram, para o professor e co-fundador e ex-membro do PT, uma evidência da extinção do professor universitário.
A crítica de Arantes e Oliveira também se estendeu a Renato Janine Ribeiro, professor de Filosofia Política da USP e diretor de avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do MEC), chamado por Oliveira de “Rosemberg da Capes”. Ribeiro publicou recentemente no caderno Mais! da Folha artigo em que defendeu sentimentalmente a pena de morte e a prática de maus tratos a criminosos hediondos, o que fere as regras do Estado de Direito.
O livro de Arantes também explica os motivos pelos quais essas regras são desrespeitadas, o que se deve a uma crise no capitalismo, relacionada às mudanças na sociedade de trabalho, com a informalidade do trabalho, que desestruturou sua valoração. Na tentativa de proteger o capitalismo, então, são tomadas medidas administrativas, o que instaura o estado de exceção, que hoje se disfarça de democracia. Sua origem é mais remota, mas ele pode ser visto nas mais diferentes situações, como no nazismo, no socialismo, em revoluções (“revolução é sempre autoritária”) e em medidas sociais paliativas, como o Bolsa Família.