São Paulo (AUN - USP) - Pesquisador propõe a interação entre a arqueologia e a genética para explicar lacunas em reconstrução histórica da ocupação humana em palestra recente no departamento de botânica da Universidade de São Paulo. A apresentação foi ministrada pelo docente do MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP) Eduardo Góes Neves. Sua exposição descreve seu mais atual projeto de estudo arqueológico que tem como tema: “Hiatos e continuidades na história pré-colonial da Amazônia” (Hiatusus, gaps and discontinuties in Pré-Colonial Amazonia).
A pesquisa procura reconstruir a história da ocupação humana na Amazônia entre 9.050 e 1.050 a.C que se delineia como um curioso quadro de atuação humana. Isto porque embora seja considerada precoce, esta ocupação a partir de 6450 a.C tem vestígios encontrados apenas no alto Madeira e baixo Amazonas. E foram observadas, nos sítios arqueológicos, alterações na forma de organização social, política e econômica por volta 1450 a.C, como: tamanho, duração e densidade da ocupação. A partir destas constatações, arqueólogos sugerem que a história da ocupação nesse território não ocorreu de forma padrão, mas apresenta “alternância de períodos”. E já que os especialistas não chegam a um consenso, Eduardo Neves e sua equipe propõem uma hipótese de explicação desse comportamento.
A hipótese defende uma tese de que as mudanças ocorridas por volta de 550 a.C estão relacionadas a eventos paleoecológico e paleoclimático que têm como resultado a transformação de áreas de cerrado em áreas de floresta por volta de 1050 a.C. Também afirma que as alterações sócio-políticas por volta de 550 a.C são conseqüência da aquisição do modo de vida agrícola na região.
Essa hipótese procura comprovar que ocorreu um gap no tempo, ou seja, intervalo cronológico que caracteriza a implantação completa da agricultura, pois não encontraram-se mais vestígios de mudanças nesse período. Por isso a contribuição do estudo da genética para explicar esses “hiatos”, como denomina Eduardo, no comportamento humano é de grande importância para construir a história de ocupação da Amazônia.
Durante a palestra, Eduardo apresentou mapas de expressiva diversidade lingüística, fotos elucidativas de formação de tempo histórico de suas escavações: cerâmicas decoradas e de distintos formatos; ferramentas, como lanças o que pode indicar a atuação de um mercador; urnas funerárias; e, ossos humanos.
Após a sua exposição, iniciou-se o debate a respeito das explicações possíveis para esse hiato no tempo arcaico entre o arqueólogo e biólogos. Os docentes especialistas nas duas áreas estão motivados a promover novos encontros para debater e concluir esta linha de pesquisa.