Um método de fácil execução e baixo custo para avaliar aspectos funcionais do chamado “bom colesterol” foi desenvolvido por uma recente pesquisa da Universidade de São Paulo. Estudos clínicos anteriores já haviam revelado a relação das baixas concentrações de HDL (lipoproteína de alta densidade, do inglês high density lipoprotein) com a maior incidência de doenças arteriais coronárias (DACs). No entanto, os medicamentos utilizados para aumentar a concentração de HDL no sangue não ofereciam bons resultados, o que mobilizou a comunidade científica a pensar em novas formas de melhorar sua funcionalidade.
“A maioria dos métodos disponíveis atualmente para a avaliação da função da HDL são de difícil execução e precisam de equipamentos caros, de difícil manutenção, exigindo recursos humanos com alto nível de especialização”, explica Antônio Carlos de Arruda Leite Júnior, pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e responsável pelo trabalho. “Medicamentos desenvolvidos com o objetivo de aumentar as concentrações de HDL [na circulação sanguínea] não apresentam resultados satisfatórios, levantando na comunidade científica uma grande dúvida a respeito do que seria mais importante em relação à HDL: a sua quantidade, ou a sua qualidade, ou seja, seus aspectos funcionais”, afirma o pesquisador.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que as doenças do coração são as principais causas de morte no mundo. Estimativas de 2012 dão conta de 15,5 milhões de falecimentos por esse motivo, o que representa 31% do total. De todas essas, 7,4 milhões acontecem por culpa das doenças arteriais coronárias.
A DAC é o estreitamento dos vasos sanguíneos próximos ao coração, graças à acumulação de placas formadas por colesterol, cálcio e outras substâncias do sangue. Quanto maior o tamanho e a quantidade das placas, maior a chance de se ocorrer um infarto.
Na pesquisa, foram desenvolvidos três principais métodos. Um deles consegue medir o quanto de cada classe de lipídeos é transferida da LDL (lipoproteína de baixa densidade, do inglês low density lipoprotein, o chamado “mau colesterol”) para a HDL. “Deste modo, é possível ter uma ideia de uma das principais funções da HDL, que é sua capacidade de remover lipídeos do organismo”, comemora Leite Júnior.
O outro método avalia a capacidade antioxidante do HDL, por meio de um processo de separação da lipoproteína de alta densidade muito mais rápido e prático quando comparado com os modos tradicionais.
Há ainda um terceiro método desenvolvido, que avalia a capacidade da HDL de impedir a agregação de placas nos vasos sanguíneos. A vantagem dessa metodologia foi sua adaptação aos equipamentos utilizados atualmente em laboratórios de análises clínicas.
Para Leite Júnior, os resultados da pesquisa foram excelentes. Segundo ele, foi possível concluir que os métodos desenvolvidos apresentaram grande precisão e podem ser adaptados para serem realizados em laboratórios de análises clínicas e em pesquisas com grande número de pacientes.