Os sistemas construtivos utilizados no Brasil são caracterizados pela baixa produtividade e há pouca normalização para os sistemas construtivos não convencionais. Pensando na agilidade e na qualidade das construções, Patrícia Farrielo realizou uma pesquisa sobre o assunto, que fez parte da sua dissertação de mestrado, realizada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
Os estudos mostraram as vantagens de se utilizar o Light Stell Framing, uma forma moderna de construção, bem como as dificuldades em sua implantação no Brasil. Essa maneira de construir conta com estruturas de aço leve, que são montadas no canteiro de obra, permitindo um projeto de desenho industrial anterior.
O modelo apresenta várias vantagens em relação à construção civil comum, que utiliza tijolos e cimento. O primeiro benefício é a industrialização dos componentes estruturais, permitindo uma maior agilidade no canteiro de obras. Ainda pensando na rapidez da montagem, existem duas formas de oferecer as estruturas: a personalizada (cortada e identificada) e a que se corta as placas no próprio canteiro. A forma personalizada minimiza em torno de 25% a perda do material, e pode ser muito vantajosa para as construções habitacionais, uma vez que sinaliza diminuir representativamente os gastos. O projeto é, portanto, mais ágil, econômico e com boa qualidade.
Além dessas vantagens, o Light Steel Framing se mostra uma boa alternativa para moradias em áreas de desastres naturais, como inundações e desabamentos. O modelo agiria rapidamente para que as famílias desabrigadas voltassem a ter onde morar. Sobre essa facilidade, Patrícia explica: “A industrialização do sistema permite que possamos montar kits adaptáveis a cada família, e que podem ser rapidamente executados (até mesmo os perfis podem ser dobrados e cortados) no próprio local das habitações anteriores. Por ser uma edificação leve, o sistema necessita de fundações simplificadas, como o radier, muito semelhante à uma laje estrutural”.
Mas, apesar de todas as vantagens, o Light Steel Framing ainda encontra dificuldades em se consolidar no Brasil. O primeiro obstáculo está no fato de que a construção, a partir desse modelo, precisa de mão de obra qualificada para o projeto e para a montagem, ainda pouco existente no país. “A montagem do sistema por sua vez não é complexa, mas é necessário que o montador entenda um pouco dos princípios do sistema construtivo para que a construção seja bem feita, e consequentemente, minimizando as possíveis patologias.”, explica a pesquisadora.
Além disso, a falta de competitividade nesse novo mercado não impulsiona a redução do custo do material, apresentando outro entrave. Outro porém encontrado na implantação do Light Steel Framing são os softwares utilizados nas fases de projetos. A pesquisa chegou a conclusão de que o software BIM (Modelo de Informação de Construção, em português) é o que mais facilita a execução do Light Steel Framing, permitindo não apenas o projeto, mas também o planejamento e o gerenciamento das obras.
Para Patrícia, a principal dificuldade ainda enfrentada é a barreira cultural. “De um modo geral o que falta é quebrar a barreira cultural que o sistema enfrenta. Quando pensamos em construir uma habitação a primeira imagem que nos vem a cabeça é a do tijolo e cimento. Construir a partir de componentes industrializados não é a maneira como a população em geral pensa e aceita. Quando falamos ainda em habitações populares a situação ainda é um pouco mais complicada visto que o financiamento muitas vezes não é aprovado para sistemas construtivos considerados inovadores.”, diz a pesquisadora.
Para todas essas dificuldades, porém, soluções vêm sendo encontradas. Para a falta de mão de obra qualificada, as construtoras que trabalham na área já vêm oferecendo cursos para que os trabalhadores se especializem. Quanto à falta de normalização, Patrícia explica que providências já vem sendo tomadas: “Iniciativas para mudar esse cenário já estão sendo realizadas, como por exemplo, a publicação das diretrizes do Sinat [Sistema Nacional de Avaliações Técnicas], do Ministério das Cidades. Além disso, já é possível encontrar alguns conjuntos habitacionais em LSF financiados pela Caixa para o Programa Minha Casa Minha Vida”.
Se o modelo de construção Light Steel Framing conseguir um espaço no mercado brasileiro e, por fim, conseguir alcançar de forma representativa as construções habitacionais, muitas vantagens existirão. As construções poderão ser efetuadas de forma mais rápida, de modo a entregar as moradias mais rapidamente às famílias, e de forma mais econômica, de forma a oferecer menos custo ao governo. Sobre o futuro, a pesquisadora se mostra otimista: “Eu comecei a trabalhar com o LSF em 2008 e naquele momento haviam poucas publicações e informações nacionais sobre o sistema. De lá para cá é notável a quantidade de profissionais que se especializaram no sistema e a quantidade de informações disponíveis. Acredito que isso é um sinal de que o modelo está sendo mais aceito pela população de um modo geral”.