O Acidente Vascular Cerebral ou Encefálico caracteriza-se pelo rompimento ou entupimento de algum vaso sanguíneo no cérebro. Não é difícil encontrar vítimas de AVE (sigla mais utilizada atualmente) que possuem algum problema com o equilíbrio após o ocorrido. Porém, Alessandra Martinelli, orientada pelo professor Luis Teixeira, conseguiu provar em sua tese de doutorado, desenvolvida na Escola de Educação Física e Esporte da USP, que treinamento com restrições sensoriais pode melhorar o controle postural desses pacientes, característica importante na redução de quedas e acidentes dessa população.
O estudo do caso começou com a seleção de voluntários, que foram distribuídos em dois grupos de dez membros. Todos foram avaliados de acordo com alguns critérios e possuíam condições de saúde muitos parecidas. A idade dos participantes variava de 50 a 76 anos e eles chegaram ao experimento por intermédio do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, conhecido como HU. Testes prévios foram realizados para que o resultado final pudesse ser comparado com a situação inicial dos pacientes.
Para avaliar o efeito de restrição sensorial sobre a melhora do equilíbrio corporal, foram comparados dois programas de treinamento aproximadamente um ano após o AVE. No primeiro, denominado “Integral”, os pacientes realizavam os exercícios com todas as vias sensoriais livres, ou seja, não tiveram que lidar com nenhuma restrição sensorial. No segundo, chamado de “Restrição”, os voluntários realizaram as tarefas primeiro com os olhos fechados, depois em um piso maleável (que passa uma informação tátil distorcida) e, logo após, combinando olhos fechados e piso maleável.
Desenvolvimento e resultado
Em ambos os programas foram realizados os mesmos exercícios,com tarefas que envolviam controle estático e dinâmico, tais como ficar parado com os pés próximos, realizar giros de 360 graus, colocar os pés um em frente ao outro e realizar deslocamento. O treinamento foi feito durante 12 sessões com duração de uma hora cada, distribuídas em quatro semanas.
Imediatamente após e duas semanas depois das 12 sessões de exercícios os testes foram repetidos. O intervalo entre os testes foi necessário para entender se os efeitos perduraram durante algum tempo. Neles, foram realizadas tarefas diferentes das aplicadas no treinamento para mostrar se os resultados poderiam ser transferidos para tarefas do cotidiano. Após um balanço final foi possível notar que o grupo de restrição obteve maior ganho de desempenho do que o grupo integral.
As tarefas dos testes foram realizadas em condições sensoriais plenas, e mesmo o grupo integral tendo praticado-as desta maneira nos treinamentos, não conseguiu obter um resultado tão bom quanto os voluntários que treinaram com restrições. E por que isso acontece? Segundo Luis Teixeira, “a falta de algum sentido induz ao paciente um melhor desempenho e aprendizagem porque este precisa prestar mais atenção na tarefa e ainda aprende a usar mais as outras vias sensoriais quando uma delas não está disponível”.
Os autores lembram que os exercícios realizados com restrição sensorial podem ser aplicados em programas de reabilitação e fisioterapia das vítimas de AVE e garantir um sucesso ainda maior do tratamento. Eles também ressaltam que quando os pacientes não se expõem aos perigos de se movimentar, eles perdem ainda mais a força e a capacidade de controle. Por isso, é melhor praticar alguma atividade, com orientação profissional, para não ficar parado do que passar o dia sentado em frente à televisão por medo de sofrer algum acidente em consequência da dificuldade de equilíbrio.