ISSN 2359-5191

01/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 90 - Meio Ambiente - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Cai mito sobre utilização de fogo em plantio
Pesquisa de doutorado na área de ecologia humana mostra que a regulamentação deve ser revista
Fonte: www.ibama.gov.br

Pesquisador há cinco anos da condição do solo na região do Vale do Ribeira, Alexandre Ribeiro Filho chega a resultados impactantes com relação à prática do plantio itinerante praticado por comunidades tradicionais quilombolas no bioma Mata Atlântica na região do Alto do Ribeira (SP).

A região do Vale do Ribeira, localizada ao sul do estado de São Paulo e leste do estado do Paraná, abriga 24 cidades paulistas, e ao todo, 88 comunidades quilombolas, cuja subsistência depende inteiramente de seu sistema tradicional de plantio itinerante.

Ao coletar amostras de solo em diferentes estágios da prática agrícola itinerante ao longo dos cinco anos e comparando-as com amostras de solo coletadas de áreas de floresta adulta de mata atlântica da região, todas levadas para análise em um laboratório na ESALQ, o resultado encontrado foi surpreendente. Foi verificado que os nutrientes no bioma da mata atlântica são retidos na vegetação adulta, e não no solo. Desta maneira, a prática das queimadas, desenvolvida historicamente através de inúmeras gerações, na realidade utiliza os nutrientes retidos nas folhagens como adubo, transformando-os em cinzas e devolvendo para a terra. Assim, os resultados das análises de solo onde é praticado o Sistema Agrícola Itinerante (SAI) apresentaram em sua composição uma concentração muito maior de nutrientes do que os solos de floresta adulta.

Ribeiro Filho explica que a técnica utilizada para a queimada no SAI é complexa e controlada. Para conseguir queimar a vegetação do local escolhido, é necessária a escolha correta de uma época específica do ano, quebrar a vegetação da maneira correta e só então queimar. Com essa técnica, os agricultores garantem que somente a vegetação quebrada perto do solo é queimada, deixando o solo mais fértil para que a plantação seja então iniciada e os troncos maiores que permanecem intactos por serem resistentes ao fogo. São cultivadas diferentes espécies ao mesmo tempo e, desta maneira, o cultivo não extrai do solo um só tipo de nutriente, como ocorre em plantações de monocultura que provocam a exaustão do solo.

A área da Ecologia Humana, pouco conhecida na área da ciência, tem seu valor interdisciplinar analisando a relação das comunidades humanas com o ambiente em que vivem, e como se dá a utilização dos recursos naturais que lhe são proporcionados em seu entorno. Desta maneira a pesquisa no Vale do Ribeira estuda as práticas das comunidades tradicionais quilombolas e revela que seu conhecimento prático não é nocivo ao ambiente, ao contrário do que é normalmente esperado pelo uso do fogo e do que diz a regulamentação atual de uso do solo na região, que proíbe a queima no plantio da área, motivo de conflitos entre as comunidades tradicionais e os órgãos reguladores.

A importância desse estudo, de acordo com o pesquisador, é a esperança de produzir um efeito conciliador entre as comunidades locais e as autoridades, visto que o sistema agrícola itinerante praticado por estas é a base de sua subsistência. “Entra crise, sai crise, e eles não serão afetados, por causa de sua prática de subsistência”, defende Alexandre. O objetivo principal de sua análise é prover base científica para que as regulamentações de uso do solo sejam adequadas ao local.

A partir dos resultados encontrados na região do Vale do Ribeira, o pesquisador ressalta que cada bioma e região necessitam de um estudo específico, pois é impossível a generalização de uma só regra para todos os biomas que encontramos no país. Seu estudo é específico para o bioma da Mata Atlântica e não deve ser levado para os biomas brasileiros como um todo.

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