ISSN 2359-5191

29/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 103 - Educação - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Tecnologia é aliada da educação
Dentro das escolas brasileiras, uso de computadores e internet ainda é escasso. Ao contrário do que se espera, essa falta não contribui para processo de aprendizagem dos alunos
Pixabay

Inspirado pelo trabalho que realizou durante dois anos no CTIC (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias), o pesquisador Raphael Albino chegou à conclusão que para aumentar a eficiência do uso de computadores nas escolas, é necessário que a informática seja pensada como parte integrante das práticas pedagógicas. O uso de tecnologia nas escolas, como ferramenta de ensino, motivou Raphael a realizar sua dissertação de mestrado na FEA-USP. Orientado pelo professor César Souza, ele estudou casos brasileiros para criar um índice de uso de tecnologia.

O índice foi criado com base na pesquisa TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), realizada em 2013, e que envolve mais ou menos 940 escolas do Brasil inteiro. Ao entrevistar alunos, professores, coordenadores pedagógicos e diretores, o estudo criou uma base para o índice de Raphael. Ele é composto de três dimensões, como explica: “A primeira analisava a infraestrutura efetiva. Ou seja: se a escola realmente possui computadores. A outra é a questão do apoio da direção para que houvesse o uso da tecnologia. E a última, que é propriamente o uso por professores e alunos”.

Após criar o índice, o pesquisador tentou extrair informações dos números encontrados, e foi atrás de duas vertentes de análise. Uma que diz respeito às diferenças do uso de tecnologia em escolas públicas e privadas, e outra sobre a localização das escolas em diferentes regiões do Brasil. O resultado, como é de se esperar, apontou que as escolas privadas se saem melhor: “As escolas públicas ainda têm um retrato de infraestrutura bem carente. O próprio apoio da direção ao uso de tecnologia é bem menor se comparado ao das escolas particulares”, explica.

Já com relação à localização, nenhuma surpresa ao constatar que as regiões Sul e Sudeste possuem vantagens, como mostra Raphael: “Comparando a região Centro-Oeste com as outras do Brasil, ela apresentou menor desempenho. Em contrapartida, as regiões Sudeste e Sul possuem um uso de tecnologia maior que as outras regiões. Elas são altamente informatizadas, com as escolas largamente incluídas digitalmente e com apoio da direção e professores no processo de ensino e aprendizagem.”

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) também entrou na pesquisa: “Escolas que estão localizadas em municípios com IDH baixo realmente tiveram menor desempenho, seja porque possuem uma infraestrutura precária, seja porque a direção não apoia o uso de tecnologias, seja porque efetivamente os professores não estão usando isso dentro das práticas pedagógicas”, ele explicita. Um dos pontos que indicou como melhoria do trabalho foi justamente entender as políticas públicas que estão sendo direcionadas para esses lugares, e, assim, verificar se o governo realmente está pensando em melhorar a oferta de tecnologia dentro das escolas com índice afetado.

Mais importante que levantar esses dados, é entendê-los para gerar possíveis soluções. Primeiro, para que uma escola faça bom uso da tecnologia, é indispensável que ela a possua. O Censo de Educação Básica de 2013, realizado pelo Ministério da Educação, mostrou que 48% das escolas públicas brasileiras não  têm computadores para os alunos. Mas mesmo quando as instituições de ensino possuem acesso à tecnologia, muitas não conseguem fazer um bom aproveitamento: “Para uma escola ter mais uso de tecnologia, é importante ela capacitar os professores e os alunos, para que possam usar os computadores e a internet. Ter aulas específicas de informática dentro da grade curricular também é um fator que ajuda bastante”, diz Raphael. Não adianta fornecer o equipamento se ninguém sabe como utilizá-lo, e se ninguém estimula o seu uso. Por isso, fazer uma integração digital, que envolva ensino e aprendizado, é um fator que garante resultados.

A internet e o computador devem ser pensados como aliados do exercício da educação, e não como inimigos. “Se você dentro do contexto educacional não utiliza essas ferramentas como algo que vai te ajudar a transmitir o conhecimento, você vai contra toda uma rotina que não tem volta. Ainda mais pensando que hoje em dia o acesso à internet tem sido cada vez mais disseminado dentro dos domicílios do Brasil e dentro da mobilidade telefônica”, justifica. A internet é um caminho sem volta e, querendo ou não, ela faz parte de pelo menos alguma parcela da vida da população, dentro ou fora de casa. Por esse motivo, ela deve ser vista como uma ferramenta capaz de deixar o ambiente mais democrático e participativo.

A abordagem de Raphael é importante porque o assunto é geralmente tratado de modo qualitativo. No Brasil, as referências quantitativas são praticamente inexistentes, e foi isso que o índice criou: uma abordagem quantitativa para um universo qualitativo. “Foi bacana fazer o trabalho para ter essa contribuição prática, principalmente para o governo avaliar se as politicas definidas têm surtido efeito, e como ele poderiam melhorar”, finaliza.

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