Neli Aparecida Melo-Théry completou este ano uma pesquisa comparativa no Brasil e na França que estudou as atitudes dos agricultores de cada país com relação às mudanças climáticas no planeta decorrentes do aquecimento global, e encontrou resultados interessantes que refletem questões culturais.  

Para sua pesquisa, foram escolhidas as principais regiões de produção agrícola em ambos os países: no Brasil, o Mato Grosso e, na França, a Bretanha. Coletando dados de temperatura e pluviosidade de um período de 30 anos para cada região, nota-se um aumento na temperatura média de ambos, ao longo do tempo.

Essa mudança de temperatura é notada com facilidade pelos franceses, pois suas estações são bastante marcadas pelo frio e calor e qualquer alteração torna-se perceptível. Já no Mato Grosso, o calor é predominante e o aumento da temperatura média é de difícil percepção, contudo, de acordo com os dados coletados, existe uma redução significativa da pluviosidade, que vem ocorrendo na região no período estudado.

Devido ao aumento de temperatura na França, os agricultores percebem há algum tempo que as colheitas estão se comportando de maneiras diferentes. A uva plantada na região, por exemplo, apresenta agora um período de maturação onze dias menor do que costumava. Essa mudança causa problemas por conta do período de férias coletivas na Europa, ou seja, a produção termina seu ciclo sem que haja mão-de-obra para colheita. Desta maneira, os agricultores franceses vêm adaptando suas técnicas de cultivo para lidar com as mudanças ambientais e não perder suas lavouras.

Já no Brasil, a pesquisadora encontrou descrença nas alterações do clima. Vistas como esporádicas, as mudanças nos padrões de chuva não são relacionadas com questões climáticas globais, por isso nenhuma atitude de adaptação vem sendo tomada. Foi notada uma grande fé na ciência para desenvolver sementes resistentes às mudanças do clima caso um dia haja extrema necessidade.

A discrepância nas atitudes entre os agricultores franceses e brasileiros mostra uma diferença cultural, que reflete também nas ações governamentais com relação às reduções de emissão de gases de efeito estufa e desenvolvimento de novas tecnologias que não sejam nocivas ao ambiente. Um exemplo de ação governamental que segue esse padrão é o compromisso assumido com o Protocolo de Kyoto: as definições de metas do conselho foram levadas com seriedade pelo governo francês, ao contrário do Brasil.

Em contato com agricultores, órgãos governamentais e ONGs de ambos os países para estruturar sua pesquisa, Neli Aparecida vê grande importância em incluir a visão dos agentes práticos na tomada de decisão governamental, e abrir um diálogo construtivo para que todas as partes sejam incluídas na construção de conhecimento e decisões fundamentadas e conscientes. As atitudes dos agricultores franceses que presenciou mostra como seu conhecimento é essencial para definir alterações nos padrões de plantio. Desta maneira, almeja envolver na análise da política pública a percepção dos atores, para que seja incluída na tomada de decisões. A partir dos resultados encontrados, Neli espera que sua pesquisa ajude no planejamento das políticas públicas de forma a construir uma ponte de comunicação que leve a medidas inteligentes e estratégicas, que construam resultados eficazes.