Envolvido em uma pesquisa de conservação biológica no Estado de São Paulo, Waldir Mantovani, professor na pós-graduação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, pretende com as informações encontradas no final de sua pesquisa, compor um livro que seja de interesse não somente a pesquisadores da área, mas que transforme essas informações em conhecimento público.
Mantovani e sua equipe acabaram recentemente de montar um histórico detalhado da utilização da terra no Estado de São Paulo ao longo do tempo. Um dos objetivos desse trabalho é relacionar e traçar paralelos entre a situação da vegetação do território paulista com a história de sua ocupação, mostrando o conjunto de acontecimentos que modificou a paisagem do Estado, e assim conhecer os motivos pelos quais a vegetação é encontrada nos padrões atuais. Além disso, o pesquisador tem o intuito de mostrar para a população leiga que, ao contrário do que se pensa sobre o território paulista, ele não é somente formado pelo bioma da Mata Atlântica, mas na verdade formado por uma diversidade de biomas que tem características e fragilidades consequentemente distintas.
As unidades de conservação
Unidades de conservação, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, são porções de território que são mantidas isoladamente da sociedade por apresentar representatividade e amostras significativas de populações, habitats e ecossistemas, dessa maneira protegidas das ações do homem, no intuito de preservar essas espécies, e nelas o patrimônio biológico.
Ao longo do processo de industrialização e crescimento da economia, além do desenvolvimento de legislação específica, foram instaladas unidades de conservação no Estado. O problema, de acordo com Mantovani, é que muitas delas não têm planos de manejo, e mesmo quando existem eles são inadequados. O pesquisador explica que os modelos de conservação brasileiros são muito retrógrados, no sentido de não haver estudo de quais são as ações de fato necessárias para manter as representações dos tipos de vegetação que existiram previamente, que é a finalidade básica e fundamental da existência dessas unidades.
O problema de entender todo o Estado como um só bioma é a construção de políticas públicas para sua conservação. Para exemplificar esse problema, o pesquisador conta que as unidades de conservação, por falta de conhecimento, acabam por preservar o bioma que era originalmente Cerrado de forma a prevenir os incêndios naturais que mantém sua diversidade.
O clima do Estado é predominantemente florestal, quando os incêndios naturais que mantinham o ecossistema savânico são contidos, o resultado é o crescimento de espécies sem controle e, por conta disso, agora essas áreas são formadas de florestas secundárias. “Todos pensam na floresta como exemplo de diversidade biológica, mas a flora herbácea do cerrado é mais rica do que a flora arbustiva arbórea. Existem mais espécies de ervas do que de arbustos e de árvores, e essa vegetação campestre, está se perdendo nas nossas unidades de conservação”, diz o pesquisador.
Mantovani vê nessa publicação a importância de construir um conhecimento interdisciplinar que consiga mostrar que os problemas ambientais não surgiram espontaneamente, mas que as ações do homem têm consequências. Com o passar do tempo, essas consequências são tudo o que as pessoas podem ver, mas suas causas acabam sendo esquecidas. Por isso, a necessidade de relacionar a história com a paisagem modificada do território, mostrando que as áreas de conhecimento não caminham separadamente, mas, pelo contrário, são profundamente interligadas e devem ser vistas desta maneira.