Coordenada por Silvia Helena Zanirato, o estudo realizado no Vale Histórico Paulista, acompanhado por análise química, chega à conclusão que as edificações das cidades históricas, em sua maioria construídas com compostos argilosos, madeiras e metais derivados de fibras naturais, apresentam cupins e infiltrações nas paredes, apontando uma condição de alta vulnerabilidade.
A pesquisadora dá continuidade por conta própria à pesquisa entregue em 2014 financiada pela Fapesp e Condephaat. Junto com sua equipe, vem analisando meios de comunicar os riscos à população e aos órgãos competentes, com o objetivo de auxiliar a formulação de políticas públicas no sentido de preservar esse patrimônio histórico. Uma das questões nesse sentido é a necessidade de diversificar a renda da região, ainda concentrada na produção de café.
Silvia aponta que o local poderia ser foco de turismo histórico e natural, pois o Vale Histórico Paulista, formado pelas cidades de Queluz, Silveiras, Areias, São José do Barreiro, Arapeí e Bananau, foi marcado pelo ciclo do café no século 19, e teve a presença de figuras históricas como D. Pedro I e outros membros da aristocracia.
O grupo realizou a análise de 195 imóveis históricos nas cidades e avaliou suas características e vulnerabilidade estrutural, prestando atenção para a relação entre as condições desses imóveis com as mudanças climáticas (a maior intensidade de chuvas e secas, ondas de calor e incidências de raios, entre outros), visto que a região em questão é considerada de alta exposição e susceptibilidade a essas alterações.
Formada em história pela Unesp, interessada em patrimônio histórico e cultural e atualmente professora de Urbanização e Meio Ambiente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), Zanirato vê grande importância em preservar o patrimônio histórico. Os motivos principais estão desde a preservação da memória do local, pelas histórias circunscritas nas edificações, até por questões técnicas de construção que, de acordo com ela, são mais adequadas para o clima que vivemos. A professora explica que nessas edificações a circulação do ar é mais facilitada pela abertura das janelas e a altura das próprias edificações, as paredes e o tipo de cobertura não absorvem o calor, e também o sistema de distribuição da água é mais eficiente, pois fazia a água circular internamente pela casa, passar pelo fogão a lenha que a aquecia e distribuía, sem necessidade de eletricidade.
Além disso, há um conceito desenvolvido por Milton Santos que Zanirato utiliza para ilustrar a importância de preservar o patrimônio histórico das cidades: a rugosidade. O geógrafo descreve esse fenômeno do passar dos anos nas cidades em uma comparação com o envelhecimento das pessoas. Assim como as pessoas quando envelhecem começam a mostrar rugas e sinais de idade, as cidades quando mantém seu patrimônio histórico, sua memória, também mostram os mesmos sinais. Por outro lado, as cidades brasileiras, principalmente São Paulo, têm a tendência de “fazer plásticas” com o passar do tempo, assim como pessoas que não sabem envelhecer, constantemente renovando sua aparência. Isso implica em apagar a memória dos acontecimentos históricos e não criar uma identidade cultural nos habitantes.
Desta maneira, as edificações que encontramos atualmente, que seguem o padrão moderno de arquitetura, não são adequadas para o local onde estão inseridas. “A utilização de vidro espelhado em toda a extensão dos prédios não é adequada ao ambiente brasileiro”, defende a pesquisadora, que lembra inclusive do acontecimento em 2013, quando um prédio refletiu a luz solar e derreteu um carro em Londres, cidade que tem muito menos incidência de luz solar comparada com as cidades brasileiras.