ISSN 2359-5191

13/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 109 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Redução no custo de transporte distribuiria melhor renda no País
Ferrovias e hidrovias podem ser instrumento para redução das desigualdades regionais
A malha ferroviária atual do Brasil possui pouco mais de 30 mil km. Crédito: Ministério dos Transportes

Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) procurou analisar impactos econômicos decorrentes de investimentos em transportes. A conclusão foi que, se houvesse maiores investimentos nacionais em ferrovias e hidrovias, os estados menos desenvolvidos economicamente seriam os mais beneficiados. Na atual matriz brasileira, mais da metade do transporte de carga é feito por rodovias. Assim, a renda tende a se concentrar nas regiões em que se localizam os mercados consumidores.

Moisés Diniz Vassallo, autor da tese de doutorado, chegou à conclusão utilizando uma modelagem econômica e variando, hipoteticamente, a redução no custo de transporte. Desta forma, verificou o quanto isso impacta no PIB de cada estado e em suas exportações. “Defini arbitrariamente reduções de custo de 1% e de 10%, para entender como essa redução afetaria cada economia”, explica. “Foi um exercício hipotético, sem aplicações de análise de investimentos específicos”.

O estudo abarcou a estrutura produtiva nacional, em nível estadual, verificando 48 atividades econômicas, sua distribuição, produção e consumo. Os dados foram retirados do Nereus, o Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP. “A ideia foi pensar: um produtor de arroz exporta sua mercadoria para quais regiões?”, conta Vassallo, “e assim examinar o custo de cada trajeto”. Foi provado que, quando se reduz o custo do transporte, facilita-se o acesso do produtor ao mercado consumidor. Além disso, o consumidor também se beneficia, já que o aumento da competitividade entre as regiões gera um re-equilíbrio na economia nacional e os preços caem. “Um produtor de ferro do Pará poderá alcançar o consumidor de São Paulo e assim expandir o comércio entre as duas regiões, o que é difícil acontecer com o encarecido transporte rodoviário”, afirma.

O custo da logística brasileira consome cerca de 20% do PIB. Em países cuja malha de transportes é eficiente, essa proporção é de 10%. “O que se nota então no meu trabalho é que as regiões mais distantes dos centros consumidores, por sua vez, menos desenvolvidas, são as que mais se favoreceriam”, comenta o pesquisador. Os estados do Norte, mais isolados dos consumidores e de fornecedores dos insumos, teriam o maior benefício, já que passariam a vender seus produtos para estados com grandes mercados.

O trabalho foi motivado pela ineficiência da matriz de transportes brasileira. O Brasil é detentor da sétima maior economia e da quinta maior extensão terrestre do mundo, com mais de oito milhões e meio quilômetros quadrados. A produção nacional, entretanto, baseia-se em commodities de alta densidade. Isto é, produtos considerados pesados para um baixo valor agregado, como é o caso de minérios. Por serem transportadas em caminhões, essas cargas acabam saindo ainda mais caras, já que o transporte rodoviário é mais custoso.

Apesar disso, o transporte rodoviário tem suas vantagens. “A alta capilaridade das estradas, avenidas e ruas possibilita o acesso total ao interior das cidades”, explica Vassallo, “permitindo uma distribuição dos produtos com eficácia e rapidez e mantendo um bom manuseio das cargas”. O grande ponto negativo é seu alto custo, principalmente para as grandes distâncias percorridas pelos produtos que vêm das regiões Norte e Centro-oeste. “Como a maioria das indústrias fica no Sudeste, muitos carregamentos precisam atravessar o país duas vezes para chegarem prontos para uso em seu local de origem”, completa o pesquisador. Mudando a composição atual dessa matriz de transportes, portanto, as despesas reduziriam.

Segundo Vassallo, há planos do governo federal para reorganizar a logística nacional. A principal mudança seria justamente fortalecer o transporte ferroviário e o hidroviário. A iniciativa do Ministério dos Transportes se formalizou no PNL, Plano Nacional de Logística e Transporte, já realizado em três edições (2007, 2009 e 2011). A malha ferroviária brasileira, que esteve em seu auge na década de 1930, com quase 40 mil quilômetros, é hoje administrada com mais inteligência. O esquema de concessões, que chegou a entregar o empreendimento ao capital estrangeiro sem muitas compensações, agora é repensado para integrar todos os estados brasileiros e desenvolver, definitivamente, a infraestrutura de transportes brasileira.

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