ISSN 2359-5191

13/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 109 - Educação - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
FAU discute legado de Artigas
Ícone do brutalismo paulista, arquiteto recebeu homenagens de alunos e professores em uma semana dedicada ao seu centenário
Foto: Marcos Santos

João Batista Vilanova Artigas, um dos principais nomes da arquitetura moderna do país, foi fundador e autor do projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – construção característica do período brutalista. Em 2015, ano do centenário do arquiteto, seu legado foi tema de uma semana de debates na USP.

Sediado na Faculdade idealizada por Artigas, o evento foi inaugurado pelo professor Ricardo Marques de Azevedo, vice-diretor da instituição, que também participou da mesa "A Função Social do Arquiteto”.

No primeiro debate, o historiador Carlos Guilherme Mota, professor emérito da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP, relembrou a participação na banca examinadora que avaliou Artigas para o cargo de professor titular da Universidade na década de 80 – o arquiteto foi afastado da FAU durante o regime militar e voltou em 1984, depois de passar por um concurso. Ele falou sobre episódio emocionado: " Ele [Artigas] teve que dar uma aula para mostrar que sabia dar aula. Quer dizer, molecagem, de fato, né? Claro que a banca estava lá para sacramentar, recepcionar, louvar, admirar – coisa que nem sempre ocorre na Universidade. Artigas fez uma aula brilhantíssima, e foi uma lição de humildade. Ele passava pela banca e falava com cada um, com suas teorias, e citava os nossos trabalhos. Ele tinha se preparado.”

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, colega e amigo de Vilanova Artigas que também lecionou na FAU, lembrou o "Poema Pedagógico", escrito por Anton Makarenko entre 1925 e 1935, para falar sobre a proposta do fundador para a Faculdade: "Ele [Makarenko] viajava com um pequeno grupo de auxiliares pela Rússia. Em cada lugar, durante um breve tempo, dava aulas para os poucos que estavam ali capazes, para que aqueles continuassem a educar outros, e assim por diante. Foram produzindo uma universidade em cada lugar, foram organizando e fazendo com que uns ensinassem aos outros, não que um só fosse o grande dono da verdade", disse. "Um dos aspectos que sempre impressionou e seduziu na presença do Artigas é essa capacidade que ele introduziu na FAU, de fazer com que o ensino e a pesquisa se dessem aqui dentro - de uns para os outros”.

Paulo Mendes também ressaltou a importância da FAU em um cenário de repressão como foi o da ditadura militar: “É uma das obras mais extraordinárias, justamente por ter o interesse de dizer coisas em um universo onde se dizia o contrário, [universo] da escola como lugar da repressão, onde se exige silêncio. Onde o senso de conforto não tem nada a ver com o desconforto da pesquisa, da descoberta.” E finalizou: “A vida de um homem é um projeto. Essa é a grande lição que essa escola sempre soube ensinar. Aqui não se tem doutrina, mas hipóteses para serem experimentadas. Essa é a força da posição do Artigas”.

Outro destaque da semana de homenagens foi a exibição do documentário "Vilanova Artigas: o Arquiteto e a Luz", dirigido pela jornalista e roteirista Laura Artigas – neta do arquiteto – em parceria com Pedro Gorski. O longa remonta a trajetória de Vilanova Artigas, que foi fundador da chamada Escola Paulista de arquitetura e militante do Partido Comunista Brasileiro.

Rosa Artigas, filha de Vilanova Artigas e mãe de Laura, também participou das homenagens, encerrando a semana com a mesa redonda “Acervo de documentos de João Batista Vilanova Artigas”, mediada pela professora Helena Aparecida Ayoub Silva. Na ocasião, a herdeira dos projetos de Artigas pontuou a necessidade de um novo olhar para os documentos de arquitetos brasileiros armazenados na Faculdade de Arquitetura da USP. De acordo com ela, o espaço de preservação e as vias de acesso ainda não estão em condições ideais.

Os documentos de Vilanova Artigas foram entregues à instituição depois que a fundação que levava seu nome teve as atividades encerradas pela falta de recursos. Rosa Artigas encontrou no centenário do pai – que se desdobrou em dois livros, um documentário e uma exposição – a oportunidade de trabalhar na transferência e digitalização do restante do material e de jogar luz à necessidade de investimentos para a organização do acervo.

No debate, ela disse estar surpresa com a dimensão que a data comemorativa havia tomado, mas manteve a postura crítica: "Há outro lado da história que diz respeito ao futuro. Eu sinto que há uma incompatibilidade dessa coleção de documentos com a infraestrutura e o espaço destinado à guarda, manutenção e consulta desse material e, principalmente, ao trabalho de identificação", pontuou. E finalizou de maneira otimista: "Sei que a Universidade e o país estão penando com dificuldades econômicas e que certamente existem outras prioridades. Mas, como eu herdei do meu pai a mania de apostar no futuro e nas novas gerações, gostaria de convocar todo mundo para que a gente pense coletivamente na maneira mais rápida, adequada e viável de tornar esse arquivo de projetos e documentos do Artigas e de outros grandes arquitetos preservados e acessíveis a todos.”

Ao todo, o evento teve sete mesas de discussão e cerca de 30 convidados, entre familiares, professores e apoiadores. Também estiveram em debate temas como a arquitetura moderna e os aspectos relacionados ao universo de trabalho e referências do arquiteto homenageado, por meio de mesas como “Arquitetura Moderna pela América Latina”, “Artigas e a Cidade Brasileira” e “Patrimônio Moderno”.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br