ISSN 2359-5191

30/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 119 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Hormônio recupera aroma de frutas expostas a baixas temperaturas durante longos períodos
Produto pode recuperar frescor de muitos frutos brasileiros exportados quando chegarem ao país de destino
Foram realizados experimentos com o mamão na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP

O Brasil vive hoje uma crise econômica que está tirando o emprego de muita gente, e que faz o dinheiro do trabalhador render menos por conta dos elevados índices de inflação. Como nossa economia é baseada na exportação de produtos primários, um hormônio chamado metil-jasmonato pode ajudar o país a sair desse problema. Eduardo Purgatto, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e pesquisador do CEPID - Food Research Center (FoRC), descobriu que essa substância de nome complicado pode recuperar o aroma de frutas que ficam expostas a baixas temperaturas por longos períodos. Foram realizados testes com mamão pelas alunas de mestrado Bruna Lima Gomes e Deborah Oliveira de Fusco. 

Muitas pessoas já passaram pela situação de deixar um fruto na geladeira, esquecer que ele está lá e, depois de alguns dias (ou semanas, em casos mais extremos), procurá-lo e comê-lo. Esses indivíduos certamente se decepcionam ao fazer isso porque o fruto, antes fresco e suculento, não está estragado, mas também não apresenta o seu sabor original.

Quem já teve a experiência de comer um fruto nativo brasileiro em outro país provavelmente também teve essa mesma sensação. Ao dar a primeira mordida no produto, a pessoa percebe que o sabor ou não é o mesmo do fruto original vendido nos supermercados brasileiros, ou não tem gosto de nada.

Os frutos ficam assim sem gosto porque perdem o aroma. Segundo Purgatto, ele é resultado de uma mistura de dezenas (em alguns casos, como o do café, até centenas) de compostos que permitem saber o alimento que está em nossa boca. Se o alimento não possui estes compostos, a pessoa não consegue desvendar o que está em sua boca.

Quando um alimento fica muito tempo na geladeira, ele perde os compostos responsáveis pelo seu aroma e decepciona quem vai comê-lo. E qual a relação entre isso, o hormônio metil-jasmonato e a crise econômica brasileira?

Nosso país exporta muitos produtos primários para o exterior — entre eles, as frutas. Só que, como elas ficam dentro de frigoríficos durante muito tempo até chegarem aos seus destinos finais, acabam perdendo os compostos que constituem o seu aroma. Resultado: a fruta apetitosa no Brasil chega sem gosto ao seu mercado consumidor estrangeiro. É diante desse problema que percebemos a importância do metil-jasmonato: como este hormônio consegue recuperar o aroma dos frutos, ele poderia ser utilizado para recuperar o frescor desses produtos quando chegam ao comércio dos países que compram nossas frutas brasileiras. A mercadoria brasileira seria mais valorizada e, assim, os produtores brasileiros poderiam cobrar preços maiores por seus produtos. 

Como se isso não bastasse, o metil-jasmonato tem mais uma função importante: foram realizados testes em plantações de soja que mostram que este hormônio é liberado por folhas que estão sendo atacadas por pragas. Assim, as outras folhas vizinhas ficam sabendo da doença que atinge uma parte da soja, e produz substâncias para impedir que a praga se espalhe por toda a plantação. "O hormônio serve para realização de comunicação entre as plantas", explica Purgatto.

Momentos de crise sempre são desconfortáveis porque exigem cortes de gastos e racionalização do uso do dinheiro; mas são também uma excelente oportunidade para o surgimento de novas ferramentas que podem reformar ou até reestruturar o que já existe. Talvez o hormônio metil-jasmonato possa ser utilizado nos próximos anos para incrementar a nossa economia, levando mais sabor aos que apreciam as frutas brasileiras, mas estão distantes do nosso território.

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