O manejo de resíduos sólidos é um problema que as grandes empresas enfrentam, principalmente em um mundo que demanda cada vez mais um desenvolvimento sustentável. Com o aumento da renda per capita de alguns países, como o Brasil, essa questão tem se tornado ainda mais problemática, já que, quanto maior a renda, maior o consumo e mais resíduos são gerados. Rodrigo Villa Lobos, analisou duas grandes empresas brasileiras em sua dissertação de mestrado na FEA-USP, para compreender como esse desafio vem sendo enfrentado.
Para o pesquisador, “Tratar do resíduo é um desafio que não faz parte do dia a dia da empresa, ela geralmente fabrica um produto ou oferece um serviço, então são poucas que sabem lidar com isso”. Para resolver esses problemas, as duas empresas estudadas trabalharam em rede. Vale ressaltar que o conceito de sustentabilidade, aplicado nas ações das empresas, aparece muitas vezes distorcido: “O desenvolvimento sustentável é um equilíbrio de responsabilidade ambiental, social e crescimento econômico. Para algo ser sustentável, ele tem que ser viável economicamente também. A gestão do resíduo sólido sustentavel é a mesma coisa, ela tem que considerar essas três esferas”.
A primeira empresa, ou empresa A, fabrica embalagens cartonadas longa vida. Ela busca tratar o resíduo gerado pelo consumidor final, ou seja, reciclar os produtos que ela mesma produz. As embalagens longa vida são feitas de papel, plástico e alumínio, o que dificulta a reciclagem e encarece o processo. Isso desestimula os catadores e cooperativas. Por isso, a empresa tinha o desafio de fazer as pessoas na ponta da cadeia reciclarem mais os produtos. “Ela faz redes com fornecedores de máquinas, institutos de pesquisas e recicladores, para desenvolver novas tecnologias. Como resultado ela conseguiu desenvolver, em rede, uma máquina para reciclar o papel da embalagem”. A inovação permite que a embalagem seja 100% reciclada.
A outra rede que a empresa utiliza é a de campanhas informativas para a população, ensinando que é possível reciclar as embalagens longa vida, como fazer a coleta seletiva do lixo, onde deixar os resíduos. Essa ação é feita através de campanhas na internet e de parcerias com prefeituras, divulgando a importância da reciclagem nas escolas municipais. A terceira e última rede analisada trabalha diretamente com cooperativas e associações de catadores. Mapeando essas organizações, a empresa fornece material e tecnologia para que a embalagem seja reciclada.
Neste caso, a empresa não possui a obrigatoriedade de realizar essas ações: “As companhias são obrigadas por lei a tratar o resto de suas próprias produções. Não o produto final”. Mas tudo faz parte de um pensamento estratégico, como afirma Rodrigo: “Se eu fabrico um produto que ninguém sabe o que fazer com ele no final, uma hora ou outra a pressão do mercado vai chegar, sugerindo que outro tipo de embalagem seja utilizada. Afinal, o que eu produzo está virando uma montanha de lixo, e ninguém sabe o que fazer com ela”.
Já na Empresa B, uma construtora, o caso é diferente. Ela sofre com os resíduos gerados nas próprias obras: “Eles fazem grandes obras no Brasil inteiro, como rodovias e hidrelétricas. Os resíduos que eles geraram em 2013 equivalem ao de uma cidade de 100.000 habitantes”, comenta Rodrigo. Como as construções são dispersas e é difícil controlar toda a cadeia, uma consultora foi contratada e uma bolsa eletrônica de resíduos criada. “Dessa maneira, a empresa divulga os resíduos para as empresas interessadas. Por exemplo, em tal obra eu tenho um lote de mil quilos de madeira para vender. A oferta é anunciada na plataforma e os interessados participam de um mini leilão”. Enquanto a empresa A atua diretamente na rede, de forma ativa, a B forma uma rede mais passiva. A construtora consegue tratar os resíduos e gerar renda ao mesmo tempo.
Rodrigo conseguiu demonstrar que é possível equilibrar os três critérios da sustentabilidade tratando os resíduos em rede. Segundo ele, um dos motivos que garantiram o sucesso das companhias foi a assimetria do poder: “As organizações possuem um poder muito forte, capaz de comandar toda a rede. Essa assimetria foi fundamental”. Além disso, percebeu que são dois os maiores desafios a serem enfrentados pelas empresas: a logística e a educação. “O Brasil é um país muito grande, então a logística é ruim. Se eu quero transportar meu resíduo para tratar, sai muito caro. E na questão da educação ambiental, pouca gente sabe como reciclar, a importância dessas ações para o meio ambiente e para o desenvolvimento econômico”, finaliza