O conceito de depósito mineral é simples. Massa ou volume de rocha definido, no qual substâncias minerais e químicas estão concentradas em quantidade suficiente para indicar um potencial mineral econômico. A importância desse fenômeno para as indústrias é ainda mais atraente. Para a geopolítica, ela é fundamental, uma vez que a riqueza dos países está relacionada também à maior ou menor quantidade dos depósitos minerais. Em tese de doutorado no Instituto de Geociências na Universidade de São Paulo, Carlos Misas pesquisou como ocorreu a mineralização de metais preciosos, ouro e prata e metais base, chumbo, zinco e molibdênio, na porção sul do Crato Amazônico, na Província Mineral do Tapajós.
O pesquisador integrou os dados das ocorrências de mineralizações formadas durante as fases tardias de cristalização de um magma, conhecidas como magmáticas-hidrotermais do tipo epitermal com alta, intermediária e baixa sulfetação e do tipo pórfiro, que contém ouro e prata, e metais de base. Sulfetação está relacionado com o estado de oxidação-redução do enxofre nos fluidos presentes nos sistemas. Dessa forma depósitos de alta sulfetação são formados a partir de fluidos oxidados e ácidos, típicos de fontes termais ácidas próximas a vulcões. Já os de baixa sulfetação são formados a partir de fluidos reduzidos, encontrados em sistemas afastados de uma fonte de calor principal. O nível intermediário como o nome diz fica no meio termo entre os dois anteriores. Ambos os depósitos epitermais e pórfiros são formados em níveis crustais rasos, ou seja, não muito distante da superfície.
As amostras foram coletadas também nas áreas do povoado de Novo Progresso e Castelos dos Sonhos no Pará. Além de associar os dados que já possuía da sua dissertação de mestrado com os da tese de mestrado da pesquisadora Alexandra Aguja e do professor Caetano Juliani.
A pesquisa foi orientada pelo professor Juliani que mantém um grupo interdisciplinar de estudo na região. Um dos objetivos do grupo é distinguir os diferentes eventos magmáticos que compõem um grande evento denominado Uatumã que aconteceu na região amazônica, entre 2100 milhões e 1860 milhões de anos, responsável pela formação de diversas áreas de mineralização.
Misas coletou as amostras que precisava depois de programar estrategicamente a visita de campo. Além de ser muito distante, a região tem temporadas climáticas muito diferentes. Uma vez com as amostras em mãos, o pesquisador fez as análises nos laboratórios do Instituto de Geociências e no exterior. Foram realizados estudos petrográficos para determinar a composição das rochas e de litoquímica para descobrir quais os principais elementos químicos que formam a rocha. Equipamentos como difratômetro de raios-X e os microscópios eletrônicos também contribuíram para as análises.
Exploração mineral
A província do Tapajós tem provavelmente o maior acúmulo de metais preciosos e de base no Brasil. Dessa forma, estudar como os depósitos minerais foram gerados, campo da geologia chamado de metalogênese, é peça chave para o desenvolvimento do Brasil. “Um país que não faz investimento em pesquisa mineral é um país com o seu desenvolvimento estagnado. É preciso saber quais são os recursos minerais disponíveis”, afirma Missas.
Embora, estime-se que mais de 700 toneladas de ouro já foram extraídas da região, grande parte da exploração foi feita por garimpeiros que se concentraram apenas na superfície utilizando ferramentas muito rudimentares. Após seus estudos, o pesquisador concluiu que a região tem potencial para ocorrência de mineralizações magmáticas-hidrotermais de tipo pórfiro e epitermal, ou seja, há grandes chances de se encontrar depósitos ricos em ouro e prata e metais de base.
Os resultados obtidos na pesquisa devem ser transmitidos às indústrias para que elas invistam nas áreas com potencial mineral. Quando questionado sobre a necessidade de transmitir as informações, uma vez que a atuação das mineradoras implica em grandes impactos ambientais para a região, Misas foi categórico “A indústria precisa dos bens minerais para o normal desenvolvimento da sociedade.” Segundo ele, toda retirada de recursos naturais, conhecida como explotação, gera impacto ambiental. Todavia, o pesquisador faz a previsível ressalva que a exploração deve ter o menor impacto possível. Afinal os recursos naturais em questão, ouro e prata, não são renováveis.
A difícil situação econômica enfrentada atualmente no Brasil interfere na exploração mineral. Esta está quase parada hoje, tendo em vista que os preços tanto do ouro quanto do cobre caíram em escala mundial. Para o pesquisador, além do cenário econômico, há também atraso político. O novo Código de Mineração está pronto desde 2013, mas ainda não foi votado no Congresso Nacional. Esse atraso faz com que inúmeras portarias de que permitem a exploração de metais e alvarás de pesquisa sejam postergados. Somado a isso, o país também pode perder participação no mercado mundial com o minerais estratégicos como ferro, manganês, ouro e estanho. Com os recentes deslizamentos em Minas Gerais, o tema voltou à tona. O relator do código, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), espera aprová-lo ainda esse ano.