ISSN 2359-5191

16/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 130 - Sociedade - Universidade de São Paulo
Islamofobia na França é um fenômeno recente, aponta pesquisador
Foto: Reprodução

Há poucos anos, a sociedade francesa não atribuía ao Islã um papel tão negativo quanto ela o faz atualmente. É o que aponta o artigo “A França e o Islã: análise de uma relação”, publicado na revista Malala. Adrián Albala, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP, buscou demonstrar no artigo os contextos sociais e políticos que provocaram a mudança dessa percepção.

Segundo o pesquisador, o Islamismo começou a ser colocado na agenda política francesa após uma série de atentados em 1994 e 1995, e a vinculação do Islã como uma potencial ameaça à ordem pública se evidenciou após os ataques de 11 de setembro. Porém, é apenas em 2005 que um candidato nacionalista, Philippe De Villiers, traz pela primeira vez um discurso “contra a islamização da França”. O argumento ganhou forte adesão e foi retomado por Marine Le Pen, a atual presidente da Frente Nacional, partido francês de extrema-direita que tem ganhado força nas eleições mais recentes.

Albala atribui o crescimento da ideologia anti-Islã às mudanças no contexto internacional, sobretudo a perda de influência da França. “Isso fez com que os franceses sentissem uma perda de identidade, de importância”, explica o pesquisador. “Nesses casos, para muitas pessoas, o importante é achar o porquê, e o porquê muitas vezes corresponde a quem é o culpado. E agora o culpado é o imigrante, sobretudo o Islã”.

Analisando a percepção do islamismo pelos franceses por meio de dados de pesquisas de opinião pública feitas nos últimos anos, o artigo mostra que a sociedade francesa superestima consideravelmente a presença de muçulmanos no país, e que a maioria da população os considera como ameaças e contrários aos valores ocidentais. Refletindo esse posicionamento, a Frente Nacional foi o partido mais votado nas eleições regionais que aconteceram no dia 6 de dezembro, menos de um mês após os atentados em Paris. “Os franceses já não eram muito flexíveis com os imigrantes, mas agora é de se esperar que sejam cada vez menos”, diz Albala.

O pesquisador afirma que a esquerda política não soube se posicionar frente ao aumento da islamofobia entre a população e o fortalecimento das ideologias anti-islã perpetuadas pelos partidos de direita, que ganham cada vez mais espaço. “A esquerda francesa, justamente quando ela está no poder, está em um estado de fraqueza como nunca esteve”, ressalta.

Ele explica que a esquerda se limitou a responder com discursos de igualdade, mas não apresentou uma contraproposta clara. Além disso, a esquerda na França se mostra dividida. “Antes era de se esperar que, por exemplo, os partidos de extrema esquerda no segundo turno apoiassem o socialista, para parar a Frente Nacional. Hoje isso já não acontece”, conta. “Essa posição que existia de fazer tudo contra a direita e a extrema direita já não existe. E a esquerda passa por uma crise ideológica bastante forte”.

O artigo completo pode ser acessado no Portal de Revistas da USP.

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