ISSN 2359-5191

21/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 132 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Geociências
Modelo tridimensional automatiza mapeamento de falhas e fraturas em rochas
Programas que auxiliam no detalhamento estruturas internas estão disponíveis gratuitamente
Imagem de mapeamento através dos algoritmos (Foto: Camila Viana)

Localizar e orientar no espaço descontinuidades geológicas é importante para que no momento da escavação não haja surpresas. Para a construção de uma rodovia essa informação é fundamental para o desenho dos taludes, planos de relevo inclinados. Para a exploração de uma mina saber a orientação e tipos de descontinuidades na hora da detonação é crucial. A fim de automatizar o processo de mapeamento, Camila Viana desenvolveu dois algoritmos, que trabalham com malhas triangulares irregulares, formando um modelo tridimensional expressos em sua dissertação de mestrado no Instituto de Geociências na Universidade de São Paulo. “Entender as relações espacias das estruturasé importante para chegar num consenso de como aquilo se formou”, defende a pesquisadora.  

Orientada pelo professor Ginaldo Campanha, a ideia inicial era trabalhar com o programa comercial utilizado na tese de doutorado de Fabiana Santos também no Instituto de Geociências. No entanto, no decorrer da inscrição do projeto na FAPESP, Camila reparou que o programa utilizava fotogrametria clássica, mais complicada de ser feita em campo. Com esse método, havia a necessidade de ter um controle muito rigoroso, além de todas as medidas com a bússola. Por isso, ela optou por outro software mais sofisticado e, contraditoriamente, mais barato. “No fim, criei uma maneira de amostrar virtualmente os planos como faria com uma bússola. Apesar de ser computadorizada, nós que selecionamos os planos manualmente, validando, assim, o critério geológico do trabalho”, explica Viana.

Mapeamento tradicional x novo método

Normalmente, o mapeamento de áreas é feito em campo, onde cada plano exige medições com bússola. Além de ser um processo lento, há outras dificuldades. Determinados planos são difíceis de acessar o que faz com que seja necessário utilizar rapel, fator que encarece o trabalho. Se a região tiver rochas magnéticas, a bússola pode ter a sua exatidão comprometida. Para validar sua proposta, a pesquisadora fez o controle de campo com amostragem de uma linhade varredura. Com tudo planejado, tirou fotos que através do programa PhotoScan são usadas para calcular automaticamente as coordenadas no espaço, criando o modelo tridimensional. “É um sistema diferente da fotogrametria tradicional por ser mais rápido e acessível para pessoas que não tem conhecimento da técnica", conta a pesquisadora.

Parte do ramo dageologia estrutural, a pesquisa comparou os dados obtidos no programa com os dados de campo e a correlação foi coerente. Segundo a pesquisadora, a maior contribuição foi o desenvolvimento dos programas, que são de código aberto e estão disponíveis gratuitamente no site http://git.io/vqVH0, para quem quiser acessá-los, utilizá-los e inclusive sugerir mudanças nos códigos.

Tamanha a inovação do trabalho, ele será publicado em dezembro na revista Computers & Geosciences, referência em Geociências no mundo. A ideia da pesquisadora é desenvolver a interface gráfica dos programas, na tese de doutorado que está em processo de avaliação, além de aplicá-los em ambientes diferentes, inclusive fora da Terra. Viana fez contato com um professor em Lyon que estuda evolução tectônica de Marte através de sensoriamento remoto e pretende firmar um acordo de parceria entre as instituições.

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