ISSN 2359-5191

29/01/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 4 - Educação - Faculdade de Educação
Dialogar é essencial para formar leitores interessados
Trabalho de campo revela diferenças na condução das atividades de leitura entre escola pública e particular
Para que os alunos se interessem pelo que estão lendo, é preciso que o professor proponha conversas sobre as leituras. Imagem: Rede Leitora Terra das Palmeiras

Buscando investigar o interesse das crianças pela leitura literária, a pesquisadora Marina Filandra desenvolveu sua dissertação com base nobservação de situações de leitura em duas salas de aula de escolas diferentes. Seus estudos teóricos e seu trabalho de campo mostraram que para formar um público leitor realmente interessado na leitura literária, é preciso abrir espaço em sala de aula para que os alunos conversem sobre o que leram.

A pesquisa de campo aconteceu em duas salas de quinto ano do ensino fundamental, uma de escola pública e outra de escola particular. Antes de começar a observação, a pesquisadora entrevistou as professoras com o objetivo de perceber qual era o intuito delas com as leituras propostas. Em ambos os casos, foi possível notar o forte interesse em formar as crianças como leitores, a diferença estava no caminho percorrido para se alcançar esse objetivo.

No planejamento da escola particular, já existia um cronograma pré-determinado a ser seguido nas atividades de leitura. E por isso, na entrevista, a professora parecia mais segura e organizada sobre o desenvolvimento de suas atividades. A turma trabalhou um livro durante o ano todo, Histórias deAlexandre, de Graciliano Ramos. “Ela ressaltou a questão de ampliar o vocabulário dos alunos porque estavam trabalhando um livro que tinha a questão da particularidade do vocabulário daquele autor”, conta a pesquisadora.

A leitura era realizada em um formato chamado de compartilhada, cada um tinha o seu livro. Na maior parte do tempo, os alunos seguiam a leitura que era realizada pela professora. O grande problema é que eles não se manifestavam durante ou após a atividade. Segundo Marina, é muito difícil e trabalhoso para o professor formar leitores nesse ambiente onde há um planejamento em que a aprendizagem tem que acontecer em função de algo já pré-estabelecido, em um tempo determinado e com o mínimo controle do que os alunos aprendem e não aprendem. “O mais difícil é você conseguir lidar com todas essas demandas pensando que o objetivo principal é fazer com que os alunos se interessem naquela leitura literária”, observa a pesquisadora.

Na escola pública, o que preocupou Marina foi o fato de que muitos textos eram informativos os alunos também leram outros gêneros, mas a maioria eram notícias ou reportagens e a sua qualidade (em termos literários) não era tão boa. Além disso, ficou claro que a professora utilizava as leituras para transmitir valores éticos e morais. Segundo a pesquisadora, isso acontecia por uma série de motivos, como o fato de a escola estar inserida em uma região periférica e socialmente vulnerável e também pela própria formação pessoal da educadora.

Entretanto, há muito o que ser elogiado. Além da formação de leitores, a professora citou outros objetivos: enriquecer o vocabulário, desenvolver criatividade e trabalhar diversos gêneros literários. O modo como ela conduzia cada leitura era essencial para cumprir o objetivo inicial, ou seja, a formação de leitores. “Na escola pública existia um espaço maior para manifestações dos alunos durante e após a leitura. A professora sempre fazia leituras diárias e depois uma roda de conversa, com diferentes formatos e objetivos”, elogia a pesquisadora.

“Para formar leitores, é preciso abrir espaço para que o aluno se manifeste. Pode ser através de um registro escrito (diário de leitor), conversas após as leitura ou mesmo intervenções durante”, diz a pesquisadora. “Desse modo, ele poderá primeiro se identificar e ver que tem algo naquele texto que se relaciona com ele e com outras obras que ele leu para depois se aprofundar e entender melhor o autor”.

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