A pesquisadora Lais Prado realizou um estudo clínico sobre o comportamento de bactérias Gram-positivas (do filo Firmicutes) antes e após o tratamento de canal em 20 dentes infeccionados.
Ela mediu a presença de Streptococcus spp., Propionibacterium acnes e Enterococcus faecalis antes e após o preparo químico-cirúrgico, e depois empregou medicação intracanal através do método de reação em cadeia de polimerase baseado nos DNAs e RNAs das bactérias que se encontravam dentro do canal radicular, método mais sensível e preciso que ao de cultura, já que permite a detecção de bactérias ainda não-cultiváveis.
O preparo consiste no uso de instrumentos endodônticos no canal radicular, promovendo a desinfecção mecânica, associado a substâncias de ação antimicrobiana, solvente de matéria orgânica e quelante, que corrige deficiências minerais e promove a catálise do processo. Já a medicação dentro do canal é uma pasta de Ca(OH)2, que, além de ter propriedades antibióticas, preenche o canal radicular, criando uma barreira físico-química contra os micro-organismos, e inativa as moléculas presentes na membrana externa da parede celular destas bactérias, que é responsável por seus efeitos tóxicos.
A Streptococcus spp foi detectada em 20% das amostras anteriores ao procedimento cirúrgico, utilizando a detecção do RNA. Na detecção do DNA, elas estavam presentes em 25% dos dentes. Já a espécie Propionibacterium acnes foi detectada apenas pela análise de RNA, estando presente em 10% das amostras nesta fase de medição.
Após o preparo químico-cirúrgico, Streptococcus spp. foram detectadas em 10% das amostras quando se utilizou DNA, porém não foi detectado pelo método baseado em RNA, indicando ausência de células vivas. Por outro lado, Propionibacterium acnes foi detectada por ambos os métodos, com incidência de 10% quando se utilizou RNA e de 5% para DNA.
Nas amostras após a aplicação de Ca(OH)2, a P. acnes foi a única espécie detectada nos ensaios baseados em RNA, presente em 10% dos casos, enquanto o baseado em DNA falhou em detectar essa espécie. “A detecção da P. acnes apenas pelo RNA, pode ser explicada pelo fato do método baseado no ácido ribonucleico oferecer uma maior sensibilidade quando comparado ao desoxirribonucleico e também pelas bactérias apresentarem um maior número de cópias de RNA em comparação com os seus genes de DNA”, explica Lais.
Por sua vez, a Enterococcus faecalis não foi detectada em nenhuma amostra pelos métodos utilizados. Isso por que ela é uma bactéria anaeróbia facultativa, que está associada a infecções persistentes após o tratamento endodôntico e neste estudo foram analisadas infecções primárias, que são mais simples.
Estas infecções bacterianas são possíveis apenas dentro do canal, ou seja, não se encontram em dentes saudáveis. Mas como não há como esterilizar o canal radicular, é necessário, para que se controle a infecção, reduzir ao máximo o nível de bactérias através dos procedimentos endodônticos. “Se não tratadas, as infecções podem evoluir a uma periodontite apical.”, aponta Lais.
Pela diferença na resposta das espécies bacterianas ao tratamento endodôntico, analisada nesta pesquisa, há necessidade de novas estratégias para a eliminação das espécies resistentes, aponta a pesquisadora.