ISSN 2359-5191

11/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 10 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Amamentação diminui risco de obesidade infantil
Mais de um quarto das crianças analisadas possui excesso de peso aos dois anos
Foto: Pixabay

O aleitamento materno pode ser um fator protetor contra a obesidade infantil. Essa foi uma das questões discutidas no mestrado da pesquisadora Amanda Forster Lopes. Orientada pelo professor Claudio Leone, a nutricionista buscou analisar como a alimentação no primeiro ano de vida influencia no excesso de peso. No momento em que os dados foram coletados, as crianças já estavam na pré-escola e tinham em média dois anos.

Nessa idade, as mães ainda lembram o momento que começaram introduzir frutas e legumes na dieta dos filhos e também quando deixaram de amamentar. Segundo o estudo, um pouco mais de um quarto (27,5%) das crianças analisadas possui excesso de peso. De acordo com a pesquisadora, esse é um dado muito preocupante para essa faixa etária de idade.

O estudo foi realizado na cidade de Taubaté, pois o grupo de pesquisa do qual Amanda participa já tinha parcerias com a Secretaria de Educação da cidade. Além disso, o município possui um alto índice de desenvolvimento humano e tem uma rede de escolas muito ampla. Isso possibilita uma análise representativa da população infantil, aponta Amanda.

Os pesquisadores, a princípio, realizaram uma reunião com as diretoras das escolas e mandaram um questionário pela agenda das crianças. As perguntas envolviam: peso ao nascer, tempo total de aleitamento materno e idade com a qual começaram a comer outros alimentos. Depois eles voltaram às escolas para medi-las e pesá-las.

A importância da amamentação

Com base nos dados, os pesquisadores identificaram que crianças com maior tempo de aleitamento materno tiveram menor incidência de excesso de peso. De acordo com a nutricionista, o estudo não analisou os fatores envolvidos nesse quadro. Entretanto, é possível encontrar, na literatura, artigos que o relacionam com questões fisiológicas, pois a composição do leite pode alterar o metabolismo. Além disso, o leite materno não tem um gosto fixo, varia de acordo com a alimentação da mãe. Isso influencia as crianças a aceitarem melhor outros alimentos como legumes e verduras.

O aleitamento materno exclusivo é recomendado até os seis meses.  No entanto, a partir do estudo, foi possível perceber que a duração média da amamentação é de 3,4 meses Isso representa metade do que é indicado pelos órgãos de saúde. Segundo a nutricionista, em geral, os alimentos como chá, água, leite não materno e papa de vegetais são inseridos precocemente na dieta das crianças. No caso das guloseimas (bolachas, chocolate e refrigerante), 84% das crianças começaram a consumir antes de um ano de idade. “Isso mostra que o cuidado com a alimentação não está ocorrendo como deveria”, ressalta a pesquisadora.

Mesmo com a introdução de alimentação complementar, a amamentação é aconselhada até os dois anos. Com relação à introdução de outros leites (fórmula infantil, leite de vaca ou de soja), uma em cada três crianças começou a receber leite não materno antes dos seis meses. Além de metade das crianças já tê-lo consumido com cinco meses de vida.

Um fator surpreendente no estudo foi que os pesquisadores não encontraram relação entre a introdução precoce dos alimentos e o desenvolvimento de obesidade, menciona Amanda. A pesquisa analisou múltiplas variáveis que poderiam acarretar esse quadro. Os fatores que mais influenciaram foram sexo (ser menino foi um fator de proteção contra o desenvolvimento de obesidade), peso ao nascer e tempo total de aleitamento. Esse resultado levantou uma importante questão “É mais importante só manter o aleitamento materno e não se preocupar com a introdução precoce de alimentos ou é importante se preocupar com a introdução precoce”, ressalta a nutricionista.

Os dados foram analisados pelo escore z do Índice de Massa Corpórea para a idade (IMC). Ele é uma forma de analisar o quanto uma medida se afasta da média em termos de desvio padrão. Sendo um método de avaliar grupos como se fosse a média da população. Assim, é possível classificar se a criança está com o peso adequado.

 

Foto: Pixabay


A necessidade de políticas práticas

A nutricionista destaca que já há muitas políticas interessantes relacionadas à amamentação. "Os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno" é uma delas. Essa proposta faz parte da Iniciativa Hospital Amigo da Criança e foi idealizada, em 1990, pela Organização Mundial de Saúde e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O intuito é treinar os profissionais de saúde para que evitem o desmame precoce. Embora a teoria esteja bem estabelecida, ainda faltam ações práticas. Dessa forma, é preciso mostrar a importância do aleitamento para as mães de forma contínua.

Segundo a pesquisadora, geralmente, após o parto, essas mulheres não têm um acompanhamento das suas dificuldades de amamentação. Algumas acabam deixando de alimentar os filhos com leite materno, pois precisam trabalhar. Outras sentem dores ao amamentar, sendo necessário que haja alguém que as orientes se essa dor é normal ou não. “Conseguir manter o aleitamento, até os seis meses, não é tão simples tem muitas coisas para trabalhar”, conclui Amanda.

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