ISSN 2359-5191

17/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 14 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Exploração de carvão causa impactos socioambientais em Moçambique
Mestrado defendido no Instituto de Geociências analisa exploração carbonífera
Mineradora Vale Moçambique detém a maior concessão da região

A mineração de carvão é a principal atividade industrial da região de Moatize, localizada em Moçambique. Atrelados a ela, entretanto, estão impactos ambientais e sociais. Com a proposta de analisá-los, Aniceto Macie veio do país africano para desenvolver sua dissertação de mestrado no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), sob orientação da professora Denise de La Corte Bacci.

Na bacia carbonífera de Moatize operam três grandes mineradoras, uma delas é a Vale Moçambique, que detém a maior concessão da região. Um dos objetivos da pesquisa foi analisar a qualidade das águas superficiais da região, onde percorrem três importantes rios Revúbuè, Moatize e Zambeze. Foi constatado que alguns pontos de amostragem apresentavam valores elevados de elementos químicos se comparados com o teto estabelecido pela legislação ambiental moçambicana. Houve alteração no nível do pH da água que está elevado e no nível de oxigênio que está baixo apenas 4,85mg, quando deveria estar na casa dos 6mg.  Saber a qualidade hídrica é fundamental, uma vez que a comunidade faz diretamente uso dela.

Embora a exploração mineral traga o desenvolvimento para a região, é por causa dela que 2.000 famílias foram realocadas em duas áreas de comunidades reassentadas. A divisão, feita pelas empresas mineradoras, colocava as famílias com características semi-urbanas próximas à vila de Moatize e as com características rurais a 50 quilômetros da vila. Durante a pesquisa observou-se que as comunidades não estão satisfeitas com a contrapartida das mineradoras, uma vez que questiona-se a forma como as famílias foram divididas e alega-se que há habitações com problemas estruturais e indenizações que não foram pagas ainda. Além disso, a população que foi deslocada reclama que os solos têm baixa fertilidade se comparado aos antigo solos, o que interfere diretamente nos meios de sobrevivência das famílias que dependem da agricultura e da pecuária. Segundo Aniceto, o governo é o mediador que procura estabelecer o diálogo entre as mineradoras e os líderes locais, no entanto, isso não impede que greves e até paralisações do escoamento do carvão até o porto aconteçam.

Macie apresentou seu projeto nas Jornadas Científicas de Moçambique em 2012, a partir disso o contato com o Instituto de Geociências foi estabelecido e o mestrado foi aprovado. O início da pesquisa foi em Moçambique fazendo uma sondagem do campo, depois o pesquisador veio a São Paulo onde realizou toda a pesquisa bibliográfica. Com as amostras coletadas, a análise da qualidade da água foi feita em laboratórios em Moçambique, assim como os questionários submetidos a população afetada pela mineração. Os dados tanto ambientais quanto sociais foram analisados no Instituto de Geociências. “O estudo vai trazer uma base de dados que pode contribuir para futuros projetos de remediação e recuperação de áreas degradadas”, afirma o pesquisador. Ele também poderá auxiliar na fiscalização pelos órgãos do governo, como o MICOA - Ministério de Coordenação e Ação Ambiental, além de ser uma contribuição para as empresas, uma vez que elas fazem monitoramento dessas áreas.

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