ISSN 2359-5191

17/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 14 - Sociedade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Projeto de Hidroanel Metropolitano projetado por grupo de pesquisa da FAU avança
Segunda eclusa da metrópole fluvial está sendo construída e deve ampliar rede navegável em mais de 10 quilômetros
Representação do Hidroanel em 2040, de acordo com o Cronograma de Implantação do Grupo Metrópole Fluvial. Imagem: Grupo Metrópole Fluvial

O Hidroanel Metropolitano de São Paulo é um projeto que visa à formação de sistemas interligados de uso múltiplo de águas, formando uma rede de canais navegáveis de cerca de 170 quilômetros de extensão. Essa rede é composta pelos rios Pinheiros e Tietê e pelas represas Billings, Guarapiranga e Taiaçupeba, além de um canal artificial. O projeto é desenvolvido no Grupo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura de Infraestruturas Urbanas Fluviais, também conhecido por Grupo Metrópole Fluvial, que funciona sob coordenação do professor Alexandre Delijaicov.

Um dos pontos mais importantes do Hidroanel é o transporte de cargas públicas. Elas correspondem, essencialmente, a cinco elementos: sedimento de dragagens, lodo, entulho, terra e lixo. A carga inaugural do Hidroanel são os sedimentos, porque a dragagem é o primeiro procedimento para viabilizar a navegação – a carga transportada, portanto, é resultado da própria adaptação dos canais.

Para que as hidrovias sejam interligadas, é necessária a instalação de eclusas, responsáveis por facilitar a locomoção das embarcações em diferentes níveis de água. Atualmente, a segunda eclusa, localizada na Penha, está sendo executada. Ela funciona como um elevador dentro da água, formado por duas câmaras, responsáveis por movimentar o veículo – se a água entra na câmara, a embarcação sobre. Quando escoa, ela desce.

A conclusão desta eclusa possibilitará que o trecho do Tietê que vai da barragem da Penha até São Miguel, com 14 quilômetros de extensão, seja incorporado às hidrovias. Depois, serão construídas a barragem móvel e a eclusa de São Miguel, para formar o lago-canal de São Miguel Paulista, que também terá por volta de 10 quilômetros navegáveis. "Uma eclusa pronta já pode tirar vários caminhões [de carga] da rua", diz Alexandre Delijaicov.

Uma das propostas do GMF para as próximas eclusas é a inserção de uma terceira câmara economizadora de água. "O funcionamento da eclusa é como um balé de barcos", diz o professor. "Quando a água é nivelada, para o barco continuar a subir, você tem que consumir água. Então deve existir uma câmera intermediária, para economizar pelo menos metade desse volume”, esclarece.

A criação de eclusas com uma terceira câmara é um dos projetos do Grupo que chamaram atenção fora do país. Diversas pesquisas relacionadas ao Hidroanel são realizadas em conjunto universidades internacionais. Neste ano, a FAU recebeu estudantes de arquitetura e engenharia da Universidade Tecnológica de Delft para estudar a questão das hidrovias na região metropolitana de São Paulo.

Os pesquisadores da universidade holandesa também se interessaram pelo Barco Urbano de Cargas (BUC) idealizado na USP para facilitar a dinâmica nas hidrovias. Seu nome é derivado da sigla VUC – Veículo Urbano de Carga, criado para diminuir a circulação de veículos de grande porte na cidade. A embarcação cumpre a mesma função, de adaptar-se à circulação nas hidrovias, considerando a dimensão dos canais de São Paulo, que são estreitos e rasos. Trata-se de um barco movido a propulsão elétrica, com a função de deslocar 400 toneladas de carga, armazenadas em containers. A embarcação tem casco duplo, para evitar vazamentos, e os containers ficam dentro do porão. Ele é dirigido por um maquinista, mas seu funcionamento se assemelha ao de um robô.

"A Universidade de São Paulo tem um papel importantíssimo para discutir pesquisa e projeto, para pensar no eixo cultura e extensão. É muito bacana que a FAU seja convidada pelo Departamento Hidroviário e pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano [responsáveis pelo planejamento e execução das obras do Hidroanel] para fazer esses estudos. Apesar de estarmos em um momento de aguardar a continuidade do trabalho com os dois orgãos, nós estamos evoluindo na pesquisa e nas relações internacionais, formando parcerias em locais como Princeton, Berlim, Lyon e Delft", diz Alexandre.

De acordo com o cronograma de implatação organizado pelo Grupo Metrópole Fluvial, a conclusão das obras do Hidroanel está prevista para 2040. De alguns anos para cá, as obras em andamento já tem gerado mudanças significativas para o aproveitamento do potencial hídrico já disponível. Em fase de produção, a segunda eclusa do projeto já começa a sinalizar uma ampliação significativa nos trechos navegáveis da região metropolitana.

O sistema fluvial, quando pronto, pode viabilizar a política de aterro zero, em que praticamente todos os resíduos sólidos têm novos aproveitamentos, são bio-digeridos ou, em última instância, incinerados. Dessa maneira, o gerenciamento de recursos hídricos se relaciona com a administração de resíduos sólidos, ambos de competência do poder público. Os avanços do projeto do Hidroanel geram melhorias, portanto, no âmbito produtivo, social e também ambiental.

“No Brasil não temos uma cultura de projeto – a cada três casas construídas, uma vai pro lixo na forma de entulho, não tem um projeto. A questão principal é a gente mudar essa mentalidade”, diz Delijaicov. “A cultura de projeto da coisa pública acontece no âmbito das infraestruturas urbanas, dos equipamentos públicos... Aqui na FAU temos que ter essa aprovação ética, técnica e poética, e fazer uma cidade com qualidade ambiental e urbana que promova o bem estar social e individual.”

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br