Você sabia que existem programas de computador capazes de auxiliar na busca por compostos químicos de possíveis futuros medicamentos? Foi com a ajuda de um programa desse tipo que Jonathan Resende de Almeida encontrou, em doutorado desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas do campus da USP de Ribeirão Preto, pelo menos uma dezena de compostos que podem se transformar em remédios que ajudam no tratamento dos males da doença de Alzheimer.
É claro que não é o software que faz tudo por ele. Os programas encontraram os chamados compostos químicos, e o pesquisador, em colaboração com outros laboratórios, realizou ensaios enzimáticos para verificar se o que fora encontrado realmente tem a utilidade desejada. O biólogo lançou mão de programas de cálculo específicos para este fim com o objetivo de encontrar moléculas que agem inibindo a reação de hidrolisação que ocorre entre a acetilcolina e a acetilcolinesterase. Apesar de terem nomes complicados, essas substâncias estão no nosso organismo e são essenciais no cérebro para a manutenção, por exemplo, do armazenamento de memórias recentes.
Nosso cérebro realiza muitas atividades – entre elas a comunicação entre neurônios (sinapses) através de impulsos nervosos (responsáveis por todas as atividades que o ser humano efetua). Entre um neurônio e outro, existe um espaço onde a acetilcolina, um neurotransmissor, é liberada. Quando não há necessidade de transmissão de impulsos nervosos de um neurônio a outro, uma enzima chamada acetilcolinesterase hidrolisa a acetilcolina (e interrompe a transmissão de informações). Quem tem Alzheimer produz pouca acetilcolina (a enzima que permite a transmissão de impulsos nervosos). Qual a solução encontrada para este problema? Medicamentos que inibem a acetilcolinesterase (a substância que veta a produção do neurotransmissor que permite a transmissão de informações entre os neurônios), para que, assim, os impulsos nervosos possam viajar pelo nosso cérebro.
Almeida encontrou uma dezena de novos compostos (que poderão se transformar em fármacos) que inibem a ação da acetilcolinesterase. Eles foram comprados em laboratórios específicos que os sintetizam, e custaram caro (2mg podem ser adquiridos por 100 dólares, segundo o pesquisador). Depois disso, eles foram enviados a um laboratório da Universidade Estadual de Campinas para a realização de testes em células. Esta parte da pesquisa foi realizada com a colaboração da Professora Dra. Wanda Pereira Almeida, do Instituto de Química.
Existe ainda um longo caminho a ser trilhado nessa pesquisa. Os compostos ativos descobertos por Almeida poderão se transformar em fármacos disponíveis para a população somente após passar por muitos testes demorados e, por isso, podem levar cerca de 10 anos até chegar às prateleiras das farmácias. O tempo é longo, mas é importante para que nenhum medicamento seja entregue à população sem a certeza de que não causará nenhum efeito adverso grave aos pacientes.