Graças à sólida parceria comercial entre Brasil e China, aprender o português está entre os objetivos de chineses que procuram se destacar no mercado. No entanto, de acordo com Sijuan Tang, pesquisadora da USP, o ensino do idioma no país ainda enfrenta obstáculos.
Em seu estudo, “Aspirações e dificuldades: Livro didático como instrumento de Interação-professor e aluno”, Sijuan mostra que as divergências culturais, a falta de capacitação dos professores e, principalmente, a precariedade dos livros didáticos são os problemas enfrentados por alunos e docentes no aprendizado e no ensino do português.
“Segundo o levantamento feito pela minha pesquisa, os livros didáticos de português publicados na China nunca satisfazem os aprendizes do idioma”, diz. “Tanto os professores quanto os alunos expressam vontade em ter mais livros didáticos de boa qualidade”.
A pesquisadora explica que a maioria dos materiais é elaborada por autores estrangeiros, como portugueses e brasileiros, que desconhecem as necessidades dos alunos chineses e muitas vezes não consideram as diferenças entre os sistemas linguísticos chinês e português.
Outra limitação diz respeito à falta de interatividade dos livros. As poucas publicações existentes enfatizam a gramática propriamente dita, com poucas contextualizações ou interatividade. “Os alunos aprendem mais e melhor através da comunicação com os outros, que é mais fácil e divertido para memorizar”, diz Sijuan.
Quando se trata do próprio ensino do português, ela aponta que os profissionais mais capacitados vão para multinacionais e não para as salas de aula. Além disso, a profissão de professor universitário não é tão atraente para os recém-formados que esperam bons salários.
A pesquisadora destaca que as diferenças culturais também se apresentam como um entrave para o ensino de qualidade. “O idioma chinês e o português seguem construções completamente diferentes e os livros, muitas vezes, não levam isso em conta”, diz.
Sijuan acredita que um livro didático de qualidade deveria considerar essa contradição cultural e usá-la para estimular a aprendizagem, além de contemplar o principal objetivo de se aprender outro idioma. “Os alunos buscam aprender a língua para se comunicarem. Nunca devemos nos esquecer dessa função interativa do idioma e do livro didático. Eles precisam estimular os alunos para falarem mais, acima de tudo”, diz.